Pelas Barbas do Profeta

Pelas barbas do profeta

Apodrecido, se agarram

Mãos ansiosas por auxílio.

Escala-se até o topo do

Desespero, para olhar

O abismo profundo.

Arranca os pelos,

Que feito nuvens

Despegadas caem

Em flocos mortos.

O céu é o limite

De um horizonte vazio.

Um limbo de vadios

Sonâmbulos em busca

De um pouco de alívio.

Cada trovão soa como

A voz do martelo que

Espanca os fiéis,

Curvando os joelhos,

Para que beijem o chão

E possam adorar a Terra.

Mas o espanto desses tolos

Alpinistas, que continuam

Grudados feito carrapatos,

Doando seu sangue num

Processo inverso, parasitas

e hospedeiros. Hospedam a

Ignorância e parasitam sua

Própria insuficiência.

Cada gesto prenuncia um futuro,

No desejo de existir além da sua

Insignificância, na esperança de

Fincar raízes suspensas que

Ramificam pro alto, num salto.

É de pequeno que se torce o cérebro,

Dificultando sinapses e operando sintaxes,

O absurdo do crer doentio que tem uma

Fome insaciável, o que torna a vida

Devorável, desgostosa, alienável.

No menor espasmo as mãos se libertam,

E o impacto será determinado pela altura

Que edificou sua escalada sem sentido,

Espatifando no solo acolhedor que tritura

Os ossos, já que a dor purificará a paixão

Tóxica de uma falsa fé, o corpo se abre sem

Nenhum Moisés, o sangue afoga e nenhuma

Arca irá salvar, sem anjos para acudir,

Pecados nunca mais ousarão existir.

O segundo Ragnarok, no primeiro

Os deuses morreram, no segundo,

Os representantes divinos devem

Sucumbir, restando a simples

Consciência dos que vivem o porvir.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 04/01/2019
Código do texto: T6542693
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