Pelas Barbas do Profeta
Pelas barbas do profeta
Apodrecido, se agarram
Mãos ansiosas por auxílio.
Escala-se até o topo do
Desespero, para olhar
O abismo profundo.
Arranca os pelos,
Que feito nuvens
Despegadas caem
Em flocos mortos.
O céu é o limite
De um horizonte vazio.
Um limbo de vadios
Sonâmbulos em busca
De um pouco de alívio.
Cada trovão soa como
A voz do martelo que
Espanca os fiéis,
Curvando os joelhos,
Para que beijem o chão
E possam adorar a Terra.
Mas o espanto desses tolos
Alpinistas, que continuam
Grudados feito carrapatos,
Doando seu sangue num
Processo inverso, parasitas
e hospedeiros. Hospedam a
Ignorância e parasitam sua
Própria insuficiência.
Cada gesto prenuncia um futuro,
No desejo de existir além da sua
Insignificância, na esperança de
Fincar raízes suspensas que
Ramificam pro alto, num salto.
É de pequeno que se torce o cérebro,
Dificultando sinapses e operando sintaxes,
O absurdo do crer doentio que tem uma
Fome insaciável, o que torna a vida
Devorável, desgostosa, alienável.
No menor espasmo as mãos se libertam,
E o impacto será determinado pela altura
Que edificou sua escalada sem sentido,
Espatifando no solo acolhedor que tritura
Os ossos, já que a dor purificará a paixão
Tóxica de uma falsa fé, o corpo se abre sem
Nenhum Moisés, o sangue afoga e nenhuma
Arca irá salvar, sem anjos para acudir,
Pecados nunca mais ousarão existir.
O segundo Ragnarok, no primeiro
Os deuses morreram, no segundo,
Os representantes divinos devem
Sucumbir, restando a simples
Consciência dos que vivem o porvir.