Descaminhos
Com passos largos,
Pasto o asfalto cinza,
Na torrente de poeira,
Cravando nos poros,
Gatilhos.
Minha sombra de dúvida,
Duvide de mim e me faz,
Ser uma página solta,
Rasgada em estrias cadáveres,
Devorando meus pelos vencidos.
Descolorindo o esmalte,
Do sorriso rasgado da face
Vidrada que observe sem ver,
O luar de um dia nublado,
Sem gosto, insosso, des-gosto
Do gosto.
Me come vivo feito um câncer,
Na metástase infinita da angústia,
Apedrejando a frágil memória,
Liquidando a história num gole seco,
Que o trago pigarrento faz relembrar.
Viro do avesso só pra ver,
O que do outro lado espera,
Já que o desespero é sorte,
Quando perdemos o medo.
Passados os passos,
Ficam os pés calçadamente
Descalços.
Pisoteando o corpo bagaço,
No estalar das falanges que
Escapo.
Trapo de gente que se vende,
Por pouco. A cada dia uma dívida.
Dividida em suaves prestações de
Uma existência.
Uso os membros até que me desfaço,
Pela dor fantasma ressuscito em ato,
Carrasco de mim mesmo eu sou esse
Asno.
Astro já morto de outros universos no
Espaço.
Sou a réstia de luz que reflete um
Retrato.
Recado roto carcomido por traças
Famintas de devires, bruxuleando
Pelas insinuações de uma sedução
Trágica. Tanto faz se fizer ou não.
Ainda assim me faço a cada desfazer.
Tiro o tiro da têmpora e o cérebro esvai,
Feito nuvens encefálicas cogitando um cogito.
Não penso, logo...
Desisto.