Descaminhos

Com passos largos,

Pasto o asfalto cinza,

Na torrente de poeira,

Cravando nos poros,

Gatilhos.

Minha sombra de dúvida,

Duvide de mim e me faz,

Ser uma página solta,

Rasgada em estrias cadáveres,

Devorando meus pelos vencidos.

Descolorindo o esmalte,

Do sorriso rasgado da face

Vidrada que observe sem ver,

O luar de um dia nublado,

Sem gosto, insosso, des-gosto

Do gosto.

Me come vivo feito um câncer,

Na metástase infinita da angústia,

Apedrejando a frágil memória,

Liquidando a história num gole seco,

Que o trago pigarrento faz relembrar.

Viro do avesso só pra ver,

O que do outro lado espera,

Já que o desespero é sorte,

Quando perdemos o medo.

Passados os passos,

Ficam os pés calçadamente

Descalços.

Pisoteando o corpo bagaço,

No estalar das falanges que

Escapo.

Trapo de gente que se vende,

Por pouco. A cada dia uma dívida.

Dividida em suaves prestações de

Uma existência.

Uso os membros até que me desfaço,

Pela dor fantasma ressuscito em ato,

Carrasco de mim mesmo eu sou esse

Asno.

Astro já morto de outros universos no

Espaço.

Sou a réstia de luz que reflete um

Retrato.

Recado roto carcomido por traças

Famintas de devires, bruxuleando

Pelas insinuações de uma sedução

Trágica. Tanto faz se fizer ou não.

Ainda assim me faço a cada desfazer.

Tiro o tiro da têmpora e o cérebro esvai,

Feito nuvens encefálicas cogitando um cogito.

Não penso, logo...

Desisto.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 02/01/2019
Código do texto: T6541407
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