Que Se Fodam As Nuvens
Não importam as nuvens,
Já que o céu está sempre ao léu,
Cagando para os que estão embaixo,
Cheios dessa fachada telúrica do agora.
Somente em dúvida se faz a arte,
De imaginar formas no nevoeiro opaco,
Criando carneiros para fugir dos pesadelos,
Fodendo o mundo e desejando sossego.
Nem barbas de nenhuma divindade,
Nem mesmo os pentelhos de um saco santo,
Apenas neblina esvoaçante suspensa,
Mais escura ou mais clara, a mesma coisa ingrata.
Anjinhos despencados caindo de tédio,
No ópio de um ócio assustadoramente patético,
Aguardando a grande rosa de Hiroshima,
Cada vez mais larga, numa letargia que afaga.
Passageiros soltos no ar sem paraquedas,
Aguardando o impacto na imensidão desse nada,
Ansiosos pelo estilhaçar dos ossos,
Já que são os ossos do ofício de quem quer se ferrar.
Quem sabe um último delírio,
Tragadas pausadas para suportar,
Esvaziamento desse horizonte que faz fissurar,
No último truque desse seu escroto anuviar.