Ode ao caos
Nesses janeiros
Restos, amontoados de festas
Redemoinhos, quase ressaca
Um labirinto de folhas secas e roupas sujas
Me encontro entre os perdidos
Perdi-me
Quando deixei de criar, acreditar
Quando deixei-me levar
Por eles, pelo tempo
Pelo nada
E agora aqui
Embaixo da escada encolhida
Intrínseca escolha de não escolher
Agora os pássaros gritam seus cantos roucos
O vento sopra, uiva
Mas meu cabelo oleoso, não se desalinha
O medo que se finge não ter
Se arrasta por entre as paredes gélidas
O cheiro do café fresquinho, o pão de queijo, o riso
Aqui embaixo não tem
Não tem nada
Nem gritos são ouvidos
Mudos, se perdem arranhando a garganta
Engasgada no tempo
O escuro e o tiritar dos ossos, são aconchego
Vozes gritam no silêncio que me faço
Unhas compridas arranham a parede e a pele
Irritante, desgastante, ofuscante consolo do nada
Eu cavando meu próprio abismo
Olhando o quão profundo o escuro me chama
E me derramo em sangue
De um coração murcho e cinza
Sentir o quê?
Pra quê?
O cheiro de mofo, o estômago contraído
Mas já escorreu-se a bile pelo lábio débil
Lá onde as palavras morrem