Ode ao caos

Nesses janeiros

Restos, amontoados de festas

Redemoinhos, quase ressaca

Um labirinto de folhas secas e roupas sujas

Me encontro entre os perdidos

Perdi-me

Quando deixei de criar, acreditar

Quando deixei-me levar

Por eles, pelo tempo

Pelo nada

E agora aqui

Embaixo da escada encolhida

Intrínseca escolha de não escolher

Agora os pássaros gritam seus cantos roucos

O vento sopra, uiva

Mas meu cabelo oleoso, não se desalinha

O medo que se finge não ter

Se arrasta por entre as paredes gélidas

O cheiro do café fresquinho, o pão de queijo, o riso

Aqui embaixo não tem

Não tem nada

Nem gritos são ouvidos

Mudos, se perdem arranhando a garganta

Engasgada no tempo

O escuro e o tiritar dos ossos, são aconchego

Vozes gritam no silêncio que me faço

Unhas compridas arranham a parede e a pele

Irritante, desgastante, ofuscante consolo do nada

Eu cavando meu próprio abismo

Olhando o quão profundo o escuro me chama

E me derramo em sangue

De um coração murcho e cinza

Sentir o quê?

Pra quê?

O cheiro de mofo, o estômago contraído

Mas já escorreu-se a bile pelo lábio débil

Lá onde as palavras morrem

Fernanda Garoli
Enviado por Fernanda Garoli em 23/04/2018
Código do texto: T6316869
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