O Dente
O dente dó,
Dói o dente.
Mal, dito dentre
Os 28 de uma boca,
Cheia de lacunas,
Serpenteada de falas.
Dos 32 dentes,
Que arranquem o juízo,
No boticão cruel,
O estalar de ossos.
Fósseis da boca banguela.
Nasce sem dentes,
Morre com ou sem,
Mas o cadáver sempre ri,
Da desgraça da vida.
Arreganha o riso,
Escorrendo o cuspe,
Com gosto de ferrugem,
Que é sangue coagulado.
Beba a água da broca,
Com seu som sustenido,
A dor é só um capricho,
Diante do gozo sádico do dentista.
Sufoque com os cacos ósseos,
Numa golfada de sugadores,
Com a luz trêmula nos olhos,
E o choque no cérebro cheio de horrores.
A dor é só sua,
Intrusa e íntima,
Revela a angústia,
Te aproxima de ti.