O Dente

O dente dó,

Dói o dente.

Mal, dito dentre

Os 28 de uma boca,

Cheia de lacunas,

Serpenteada de falas.

Dos 32 dentes,

Que arranquem o juízo,

No boticão cruel,

O estalar de ossos.

Fósseis da boca banguela.

Nasce sem dentes,

Morre com ou sem,

Mas o cadáver sempre ri,

Da desgraça da vida.

Arreganha o riso,

Escorrendo o cuspe,

Com gosto de ferrugem,

Que é sangue coagulado.

Beba a água da broca,

Com seu som sustenido,

A dor é só um capricho,

Diante do gozo sádico do dentista.

Sufoque com os cacos ósseos,

Numa golfada de sugadores,

Com a luz trêmula nos olhos,

E o choque no cérebro cheio de horrores.

A dor é só sua,

Intrusa e íntima,

Revela a angústia,

Te aproxima de ti.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 08/09/2017
Código do texto: T6108373
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.