Decomposição

Decompor a posição,

Cisão do nada compostos,

Posto á mercê de um fosso,

Na quebra da linha em ação.

Com a luva sem dedos,

Do toque prostituído,

Nada além de um ventre fendido,

Abismo cínico revelado em segredo.

A boca abre o canibalismo,

Beijando a glote, beijo-morte,

Espasmo interrompe, corpo contorce,

Na tosse de um refluxo em fluídico.

Sabe-se que o saber é nada,

Inelutável drama da sapiência,

Burguesa flâmula da ciência,

Rompe a vida com fogo de palha.

Nuvens fecham o tempo fendido,

Cataclismo de verdade absolutas,

Só a luta mata a ideologia fajuta,

Numa disputa de quase sentidos.

Abra e despenque até o infinito,

Vagueando no limbo da subjetividade,

Sujeitando-se a mais essa autoridade,

Tornando-se a tragédia do próprio destino.

Abafe os gritos para não se delatar,

Já que a fúria dos algozes é insaciável,

Hoje você fala através do inominável,

Amanhã será falado quando não acordar.

A revolução já começou na rouquidão,

Pigarreando os últimos entraves,

Atravessando as grades feitas de carne,

Reverberando na militante multidão.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 16/12/2016
Código do texto: T5854974
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