Decomposição
Decompor a posição,
Cisão do nada compostos,
Posto á mercê de um fosso,
Na quebra da linha em ação.
Com a luva sem dedos,
Do toque prostituído,
Nada além de um ventre fendido,
Abismo cínico revelado em segredo.
A boca abre o canibalismo,
Beijando a glote, beijo-morte,
Espasmo interrompe, corpo contorce,
Na tosse de um refluxo em fluídico.
Sabe-se que o saber é nada,
Inelutável drama da sapiência,
Burguesa flâmula da ciência,
Rompe a vida com fogo de palha.
Nuvens fecham o tempo fendido,
Cataclismo de verdade absolutas,
Só a luta mata a ideologia fajuta,
Numa disputa de quase sentidos.
Abra e despenque até o infinito,
Vagueando no limbo da subjetividade,
Sujeitando-se a mais essa autoridade,
Tornando-se a tragédia do próprio destino.
Abafe os gritos para não se delatar,
Já que a fúria dos algozes é insaciável,
Hoje você fala através do inominável,
Amanhã será falado quando não acordar.
A revolução já começou na rouquidão,
Pigarreando os últimos entraves,
Atravessando as grades feitas de carne,
Reverberando na militante multidão.