O FÓBICO

Minh'alma se volta ao inverso do que sou

E no exterior dos meus aposentos

O sol brilha raios aquecidos de luz 

Crianças brincam algazarras barulhentas

E correm uma das outras

Pessoas riem e comentam o acaso 

E o mundo delas gira os dias normais

Dos que nasceram a salvo de si mesmos

Até os cachorros tem vida social

Cheirando o rabo uns dos outros.

Além do refúgio que me encobre

Meu olhar é enviesado e distante

Porque meus pensamentos

Se recusam a revelar ao mundo.

Sou armadura fria, lisa e escorregadia

Que brilha o reflexo da obscuridade

Sou o sem sentimento

O autossuficiente

O excêntrico

Que acredita não precisar de ninguém

Que acredita não precisar de amor

E que finge não escutar o coração bater

Morno e dolorido

O sangue corre nas veias confusamente

E por detrás da escura vista há uma centelha de luz

Opaca, melancólica

Desesperada e que suplica calada

Por um amor que não oferta

Dura realidade dos que vivem a solidão

Dos incapazes.

O coração quer, a mente refuta.

Como um corpo dividido em dois

Sou o que luta e o que recebe o impacto

O que grita e o que cala ressentido

O que chora e o que ri da ironia

Ah, houvera eu nascido outro

Talvez tudo tivesso sido mais suportável

Mas sou essa dualidade

Do querer e do negar

Do existir e não viver

Do odiar e querer mais.

Não estou inteiro

Sou fragmento

Dividido entre o existir

E a inércia.

 

Clarim
Enviado por Clarim em 19/09/2016
Reeditado em 24/04/2022
Código do texto: T5765748
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