O FÓBICO
Minh'alma se volta ao inverso do que sou
E no exterior dos meus aposentos
O sol brilha raios aquecidos de luz
Crianças brincam algazarras barulhentas
E correm uma das outras
Pessoas riem e comentam o acaso
E o mundo delas gira os dias normais
Dos que nasceram a salvo de si mesmos
Até os cachorros tem vida social
Cheirando o rabo uns dos outros.
Além do refúgio que me encobre
Meu olhar é enviesado e distante
Porque meus pensamentos
Se recusam a revelar ao mundo.
Sou armadura fria, lisa e escorregadia
Que brilha o reflexo da obscuridade
Sou o sem sentimento
O autossuficiente
O excêntrico
Que acredita não precisar de ninguém
Que acredita não precisar de amor
E que finge não escutar o coração bater
Morno e dolorido
O sangue corre nas veias confusamente
E por detrás da escura vista há uma centelha de luz
Opaca, melancólica
Desesperada e que suplica calada
Por um amor que não oferta
Dura realidade dos que vivem a solidão
Dos incapazes.
O coração quer, a mente refuta.
Como um corpo dividido em dois
Sou o que luta e o que recebe o impacto
O que grita e o que cala ressentido
O que chora e o que ri da ironia
Ah, houvera eu nascido outro
Talvez tudo tivesso sido mais suportável
Mas sou essa dualidade
Do querer e do negar
Do existir e não viver
Do odiar e querer mais.
Não estou inteiro
Sou fragmento
Dividido entre o existir
E a inércia.