Dissabores

No licor acre do sangue,

O amargor ferruginoso,

Desliza e para na garganta,

Feito um mangue desgostoso.

A dor não vem da faca,

Que abre o ventre do amigo,

Mas do impulso da mão

Escalpelando o umbigo em desgraça.

Escândalo de angústias estripadas,

Balouçando nos intestinos expostos,

Na gangorra dessa masmorra abortiva,

Ergue-se a bandeira de uma vergonhosa pátria.

Beijo o queixo destruído por murros,

Abrindo os muros da face ridícula,

Saboreando o trincado do osso que estala,

Compondo um poema de versos duros.

O papel não diz nada através das palavras,

Apenas vive o branco sem paz,

Escorrendo da leiteira amassada fervilhante,

Até que nata os separe e mostre que tudo é nada.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 07/07/2016
Código do texto: T5690794
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