Dissabores
No licor acre do sangue,
O amargor ferruginoso,
Desliza e para na garganta,
Feito um mangue desgostoso.
A dor não vem da faca,
Que abre o ventre do amigo,
Mas do impulso da mão
Escalpelando o umbigo em desgraça.
Escândalo de angústias estripadas,
Balouçando nos intestinos expostos,
Na gangorra dessa masmorra abortiva,
Ergue-se a bandeira de uma vergonhosa pátria.
Beijo o queixo destruído por murros,
Abrindo os muros da face ridícula,
Saboreando o trincado do osso que estala,
Compondo um poema de versos duros.
O papel não diz nada através das palavras,
Apenas vive o branco sem paz,
Escorrendo da leiteira amassada fervilhante,
Até que nata os separe e mostre que tudo é nada.