Devorar

Na boca que se abre,

O momento flui,

Antes que os dentes desabem,

engolfado em refluxo que dilui.

Devora cada carne apodrecida,

Já que estão todos mortos em vida,

Num cardápio de porções medidas,

Na falência de esperanças frias.

Síncope de luzes na retina,

Balbuciando em monossílabos,

O membro estica e estira,

Mordendo a língua sem ritmo.

Frases em pensamento voam,

Pássaros abtidos no ninho,

Tragédia que a todos coroam,

Num reino abalos cínicos.

Cão remoendo o lixo das suas vísceras,

Subnutrido abutre que também é Prometeu,

Canibal que do próprio corpo vicia,

Homem que devora a si para tornar-se Deus.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 30/12/2015
Código do texto: T5495395
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