Desfato

Das comiserações pecuniárias,

O olhar vidrado sifrãocionado,

No intercâmbio das perdulárias

Proles avolumadas feito ratos.

O chicote chilreando midiático,

Elucubrações apáticas nas redes,

Ariadne enforcando-se no pátio

Onde Dionísio chora várias vezes.

Vara esse varão fálicocêntrico,

Escorrendo o vinho menstruado,

Morte daquele fator polissêmico,

Num luto que é velado e prostrado.

Quase qualquer queda que nos quebra,

Racha os princípios tradicionalíssimos,

Amontoando cores na aquarela esparrela,

Arco-íris sutil que nos leva direto ao vazio.

Essa nesga nega a fatia fina do miserável,

Graficamente a estatística estanque,

Fossiliza a tragédia com números memoráveis,

Olhando um assujeitado cada vez mais distante.

São tantos quantos pontos imaginamos retaliar,

A reta é o que nos resta quando queremos um caminho,

O pé vacila diante do curvilíneo serpentear,

Desdobrando o corpo cadavérico em perfeito desalinho.

Pisco o pingo solto que desaba do telhado molhado,

A chuva seca numa evaporação de sauna sódica,

Cheiro de mato umedecido é tempero do serrado,

Paisagem de nuvens poucas em que a lua pende torta.

Olho o rosto raso no corpo gasto com poucos traços,

Marejando a terra que o vento atiça e o sol castiga,

Contando os gestos como se fossem soltos pedaços,

Restando impressa aquela angústia nunca esquecida.

Trato...

Trato de novo...

Um retrato.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 05/06/2015
Código do texto: T5267125
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