Navegantes

Nos mares das marés,

O rosto de resto de areia,

Apagado em marcha à ré,

Costeando em doce peleja.

Abrem-se conchas,

Num amplexo morto,

Madeixas de algas longas,

Em um canto aquoso morno.

Velas dão trégua nas aquarelas,

Serpenteando mastro fálicos,

Falência de fascismos da véspera,

Compondo um teatralizar trágico.

Canções que maresia recita,

Mordiscando o urbanístico,

Cupiniza a civilidade restrita,

Numa fome de viés artístico.

Azul tapeteante que cobre,

Cada palmo de visão do horizonte,

Faz da vida um jogo de azar e sorte,

Sortilégio da dimensão de Caronte.

Navegantes de solidão contínua,

Vislumbrando a margem fingida,

Bebendo da sua alienada rotina,

Açoitando-se com tiras tímidas.

Ritmo nauseante de proa,

Engolindo o salgado mundo,

Tendo a marina como esposa,

Repasto do abismo profundo.

Poseidon será o guardião,

Leviatã com o medo levitará,

De Ulissses o seu galardão,

Resigna nos braços de Iemanjá.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 21/04/2015
Código do texto: T5215262
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