O LOUCO.
Fazia micagem
Desafiava instigando
Em gesto obsceno
Falavas bobagens
Com caras e boca
Quando imitava
Um menino pequeno.
Provocava os moços
Vaiava os velhos
Dizia com falas
Em desatino.
Dormia o louco
Em meio os escombros
Escondia assustado
De baixo às ruínas
Assim residia
E se escondia
Sobre o telhado
Já velho e quebrado
Da casa da esquina.
Cansado estava
De tanta investida
Pobre sujeito
Que triste sina.
Há vezes em sono
Ou acordado
Falavas ouvia
Batendo pestanas
Deitado enrolado
Em grande lamento.
Em trapos exposto
Jogado ao vento
Em noites geladas
Assim o dormia.
Sofria em gemidos
Chorava em lamentos.
Feridas em sangue
Seu corpo febril
Chagas em dores
Causava agonia
Em volta ao fogo
Ardendo em chamas
De braços cruzados
Vibrava e tremia.
Sofrendo chorava
O pobre demente
Um homem insano
Sentia se preso
Acorrentado
Em desespero.
Há vezes gania
Parecia latido
Mas parecia
cachorro sem dono.
Coitado do louco
Cantava e dançava
Neste seu mundo
Tão desigual
Que vida vazia
Que grande abandono.
(antonio herrero portilho)