Antes Tardes

Arrancaria os olhos,

Se a terra não só comer,

Um Édipo sem propósito,

Com sina de só se foder.

Penso, logo, minto.

Dilemas do homem moderno,

Despojado de seus sentidos,

Enterrado trajando belos ternos.

A culpa é sempre do cu,

Já que fazemos merdas,

Buscando lógica e luz,

Vivendo farsas e trevas.

O apedrejamento das mães,

Condena de antemão os fetos,

Na mecânica das tradições,

Vagando sem eira, beira e teto.

Quantos cemitérios abrem jazigos,

Nos peitos castigados de enfermos,

Já que a lama de contidos detritos,

Espirra na face de podres detentos.

Apagando o compasso torto,

Que nenhum Grande Arquiteto utiliza,

Com linhas mal traçadas em jogo,

Numa arte que engole o próprio artista.

O céu desaba em nuvens pesadas,

Caindo em trovões ritmados,

São deuses em poderosas passadas,

Esmagando os sensíveis ouvidos.

Peneirando membros decepados,

Extraindo o sumo sanguinolento,

Em chuva púrpura de enforcados,

Pingando gota a gota em buracos.

Bocas porosas vampíricas,

Sugam o néctar moribundo,

Ávidas pelas respostas cínicas,

Verborrágicas que falam mudas.

No fim, apenas arrepios,

Escalando o dorso esfolado,

Trilhando ossos corrompidos,

No suicídio dos esfoliados.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 29/11/2014
Código do texto: T5052295
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