Biomecânica

Cada palmo cartilaginoso,

Como anelídeos distorcendo,

Nas curvas do tecido rugoso,

Formando devorador duodeno.

Cada chaga aberta,

Representa uma entorse,

Servindo de alerta,

Ao movimento que corre.

Espiralando matizes,

Entrelaçando pontos,

Buscando a origem,

Do que não supomos.

Medusas em cascata,

Perfurando o crânio,

Numa chuva ingrata,

Que empala neurônios.

Escorrendo pelo dorso,

Provocando formigamento,

Criando reação no corpo,

Que estremece no linchamento.

Em cada ruga um rio,

Que sulca ainda mais a pele,

Estriando cada centímetro,

Lavrando através dos vermes.

Os cabos arteriais,

Irrigam com sangue coagulado,

Fomentando reações neurais,

A ponto de convulsionar um lado.

Lagos de emoções soltas,

Contaminados pela dor,

Fazem-se de temidas roupas,

Acobertando o estupor.

Na face cadavérica,

Linhas mal traçadas,

Marcam a miséria,

Da caveira anunciada.

Cordões de tendões,

Movimentam marionetes de carne,

Como o foco de rebeliões,

Que nunca serão revolução de verdade.

O prato da balança tende

Ao desequilíbrio nefasto,

Preso ao que não surpreende,

Contemplando o autorretrato.

Bocas e mais bocas se abrem,

Degustando o máximo da resistência,

Se matando antes que te matem,

Naquela encruzilhada da ambivalência.

Medos se multiplicam nos pátios

Da falta de consciência regressiva,

Nas tubulações do esgoto flácido,

Que se alastra por ruas e esquinas.

Dutos de sucção serpenteiam,

Cavando as cavidades porosas,

Até os ácaros saboreiam,

No apetite de uma feroz prosa.

Abrindo um buquê em leque,

Abanando as tripas desenroladas,

Como um tenebroso espaguete,

De pontas não mais consoladas.

Overdose de entranhas,

Vomitadas para dentro,

Uma digestão estranha,

Absorvida em silêncio.

O ser diluído em suco gástrico,

Inaproveitado de corpo e alma,

Numa apologia ao catártico,

Mesmo que não sintam sua falta.

Musgos excretores emanam,

Feito chorume diabólico,

Liquefazendo os que demandam,

Esse efeito algo não sólido.

Pé ante pé os ligamentos,

Se enraízam ao caule ossificado,

Em uma teia de filamentos,

Com falsa ideia de sentido ligado.

Bate o coração como uma bomba,

Pulsando no cronômetro incerto,

A morte será sempre a sombra,

Quando deixamos de ser um feto.

Grita o apelo das vísceras,

Contracenando em segundo plano,

Desejando serem vistas,

Rasgando o dérmico e epidérmico pano.

Liberdade suicida,

Já que a clausura,

Movimenta a vida,

Descamando em fugas.

O velho se renova no desgaste,

Rangendo a engrenagem utópica,

Manuseando cada realidade,

Transformando -se em História.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 26/11/2014
Código do texto: T5049753
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