Travesseiros Voadores
No respaldar da cama,
Os lençóis emaranhados,
Um conflito do drama,
Na penumbra dos laços.
Sombras tremulam,
Seguindo ondas de luz,
Que as chamas anulam,
No vazio que seduz.
Servos são sérios momentos,
Reunidos em taças de carne,
Um absurdo trago de lamento,
Amontoando reclusas partes.
Caricaturas são derretidas,
Numa poça lodosa,
Onde colecionam feridas,
Na mente já idosa.
Vítimas sucumbem ao leito,
Restritas a infinita vigília,
Como se pudesse fazer o feito,
Sonambulando pela travessia.
Máquinas humanas,
Rejeitando a claridade,
Com olhos de lama,
Cavam a mediocridade.
Lesmas que perambulam,
Deixando um rastro de catarro,
Enquanto os mudos se anulam,
Movendo-se sem entusiasmo.
O terror de potes de vidro,
Asfixiando os sufocados,
Construindo um destino,
Mutilando fetos sem parto.
Fazem do quarto o túmulo,
Abraçando cabeças soltas,
Como se ali fosse o mundo,
Que vai reduzir as pessoas.
Pendurado no teto descascado,
A figura espreita sinistra,
Disfarçada em forma de gato,
Dando diabólicas pistas.
Falsas pegadas pregadas,
Decoram paredes mofadas,
Ratazanas já esfoladas,
São marionetes horrorizadas.
As plumas são apenas penas,
Infligidas por uma cefaleia,
Que o cérebro envenena,
Com agulhas incertas.
Os passarinhos de bicos
Arrancados por alicates,
Não conseguem dar um pio,
Mortos que não há quem mate.
Vespas divagam pelos defuntos,
Anunciando a podridão guardada,
Seguem a lógica de intrusos,
Conspiram antes de entrar na casa.
Travesseiros dormem tranquilos,
Voando sobre consciências indomáveis,
Na ilusão de uma fuga que é alívio,
Demônios escapam por becos miseráveis.