Carne Tua

Das tripas o remorso,

No viscoso insosso,

Roídos os teus ossos,

Com gosto de nojo.

Apalpando passados,

No escarro natimorto,

Apedrejando passos,

Costurando o eu torto.

Abre-se cada ponto,

Com a pele ferida,

Que sangra o sonho,

Paisagem de latrina.

Seios murchos muxibados,

No tremular de pelos soltos,

Os membros feito exilados,

Imploram que rasgue o dorso.

Tragédia sem trégua,

Trevas de motivos claros,

No andar que pesa a pressa,

Rumina a poeira dos talhos.

Estripando o abdome,

Na selvageria da inversão,

É insaciável a sua fome.

Intestinos caem no chão.

O discurso do palanque mambembe,

Fala através da carne putrefata,

Todos sem entender se compreendem,

No voo da mais demoníaca fada.

Já perderam os dentes,

Descontentes do asco,

Fantoches independentes,

Balbuciando traços, trapos.

Quase qualquer coisa alguma,

Dependurada de pêndulos rasos,

Faz morrer aquela morte nunca,

No engodo gástrico do engasgo.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 12/11/2014
Código do texto: T5033032
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