Halloween
Abóboras de caras
Malditas, a espera,
Com cruéis risadas
E cérebro de velas.
As crianças,
Não mais inocentes,
Ameaçando a vizinhança,
Pedem doces com olhos doentes.
Cada faca corta
O desejo esmagado,
Na esquina que degola,
Tendo o pesadelo retratado.
Na dúvida de esmolas,
O pedindo se choca,
Esquecido e sem sacola,
As mãos no rosto que chora.
Velhas gordas varizentas,
Risadas de boca cheia,
Aguardando a tarde cinzenta,
De bundas grudadas nas cadeiras.
Tudo é tão flácido
Que escorre nas cercas,
Tomando os pátios,
Realidade sem eiras ou beiras.
Todos aguardam as doze badaladas,
Que venham os mortos e suas trevas,
O mundo dos vivos é uma algazarra,
Tomados pela impressão da falsa selva.
Desejamos diluir num Dali,
Mas nos prendemos em Picassos,
Presos feitos homens-xaxins,
Numa exposição de esquartejados.
É possível ver a luz,
Dos olhos teus que não são seus,
Naquela chama que reduz,
Surgindo a forma de Prometeus.
No ar os últimos uivos,
De uma alcateia domesticada,
Escondidos atrás dos muros,
Cantando feito primaveris cigarras.