Halloween

Abóboras de caras

Malditas, a espera,

Com cruéis risadas

E cérebro de velas.

As crianças,

Não mais inocentes,

Ameaçando a vizinhança,

Pedem doces com olhos doentes.

Cada faca corta

O desejo esmagado,

Na esquina que degola,

Tendo o pesadelo retratado.

Na dúvida de esmolas,

O pedindo se choca,

Esquecido e sem sacola,

As mãos no rosto que chora.

Velhas gordas varizentas,

Risadas de boca cheia,

Aguardando a tarde cinzenta,

De bundas grudadas nas cadeiras.

Tudo é tão flácido

Que escorre nas cercas,

Tomando os pátios,

Realidade sem eiras ou beiras.

Todos aguardam as doze badaladas,

Que venham os mortos e suas trevas,

O mundo dos vivos é uma algazarra,

Tomados pela impressão da falsa selva.

Desejamos diluir num Dali,

Mas nos prendemos em Picassos,

Presos feitos homens-xaxins,

Numa exposição de esquartejados.

É possível ver a luz,

Dos olhos teus que não são seus,

Naquela chama que reduz,

Surgindo a forma de Prometeus.

No ar os últimos uivos,

De uma alcateia domesticada,

Escondidos atrás dos muros,

Cantando feito primaveris cigarras.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 31/10/2014
Código do texto: T5018658
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