Ratazanas
Criaturas magrelas,
Anoréxicas malditas,
Provando toscas tigelas,
Caminhante de face fina.
Faminta de banquete,
Uma misantropa,
O fim é seu deleite,
Viva que se faz morta.
Vestida com trapos rotos,
Já que a forma esquálida,
Dão ar de pobreza ao luxuoso,
Parindo miséria, falsa grávida.
Monstruosidade inexplicável,
Fazendo os ossos da pélvis,
Ressaltarem como asas desagradáveis,
No voo inferior de rastejantes répteis.
Dobrada sobre os próprio escombros,
Como se o peso de sua leveza,
Fosse insuportável ao cair dos ombros,
Roendo os degetos de sua avareza.
Uma princesa maldita,
Demoníaca entre os homens,
Perante a vida se marginaliza,
No espelho a imagem a consome.
Oprime-se pelas formas que imagina,
Detesta cada gesto cadavérico,
Com culpas de uma precoce suicida,
Enxerga qualquer motivo como patético.
Escrava de uma estética monstruosa,
Procura se desfazer a cada sofrido dia,
Considera-se a mais podre das rosas,
Nauseada com o perfume de suas tripas.
Ratazana do esgoto mais profundo,
Tateando as trevas de um coração melancólico,
Observando o abismo como pano de fundo,
Adornando a paisagem de um mundo sem propósito.