Seco Salivar

Na boca seca,

O amargo da falta

De palavras frescas,

Uma interrupta pauta.

Uma falsa ascese,

Em meditação falha,

Com a língua inerte,

No fundo da tosca taça.

Farta desse engasgo,

Sufocando a traqueia,

Presa no seu espasmo,

Pausada em tragédia.

Nenhuma nota vibra,

Deixando as cordas vocais,

Ansiosamente víboras,

Esperando consoantes e vogais.

Dentes quebrados,

De tanto serrar,

Com olhos vidrados,

Pendão do esperar.

Quase escapa a fuligem,

Acumulada nas vielas,

Vermelhas de origem,

Carnalmente inquietas.

O suicídio fonológico,

Estrangulamento fonético,

Mãos invisíveis tocam

A garganta de ar hipotético.

Na mímica de possíveis sílabas,

Contrações em soluços bizarros,

Como a mórbida e última cantiga,

Salpicando um sangue coagulado.

Sua expressividade de semântica,

Cria a singeleza de um monema,

Desfazendo-se naquela ritual dança,

Que não sendo nada, se torna poema.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 24/10/2014
Código do texto: T5010631
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