Seco Salivar
Na boca seca,
O amargo da falta
De palavras frescas,
Uma interrupta pauta.
Uma falsa ascese,
Em meditação falha,
Com a língua inerte,
No fundo da tosca taça.
Farta desse engasgo,
Sufocando a traqueia,
Presa no seu espasmo,
Pausada em tragédia.
Nenhuma nota vibra,
Deixando as cordas vocais,
Ansiosamente víboras,
Esperando consoantes e vogais.
Dentes quebrados,
De tanto serrar,
Com olhos vidrados,
Pendão do esperar.
Quase escapa a fuligem,
Acumulada nas vielas,
Vermelhas de origem,
Carnalmente inquietas.
O suicídio fonológico,
Estrangulamento fonético,
Mãos invisíveis tocam
A garganta de ar hipotético.
Na mímica de possíveis sílabas,
Contrações em soluços bizarros,
Como a mórbida e última cantiga,
Salpicando um sangue coagulado.
Sua expressividade de semântica,
Cria a singeleza de um monema,
Desfazendo-se naquela ritual dança,
Que não sendo nada, se torna poema.