Chagas
Pelos olhos do furacão,
Vejo rodopiarem
Os dentes de uma função,
Numa crença de amostragem.
Acompanhando as cabeças
Dos imponentes calangos,
Sinto o aroma da cerveja,
Escorrendo de poços artesianos.
Sofrendo o abalo sísmico,
Daquele corpo desfeito em mato,
Absorvido no sorriso cínico,
No fundo de um terreno abandonado.
São tantos lapsos em laço,
Esganando a fome inquieta,
Que me sinto o próprio carrasco,
Sentado à mesa de refeições indigestas.
Parado no ponto de ônibus,
Observado pelo sol forte,
A companhia do poste, duro,
Relegado a própria sorte.
A dor dos pés calejados,
Pisando no acelerador da vida,
Alvejado por olhos de dardos,
Dobrado em qualquer esquina.
As vistas alheias são outro óculos,
Onde posso observar sem ver,
Fazendo do desconhecido o meu sócio,
Na ânsia de acreditar em um saber.
Apaixonado pela poesia de um beijo,
Onde a fala diz tanto por não ter nada a dizer,
No movimento da língua em desejo,
Num gosto ardente de saliva que me faz derreter.
Só prego quando me apego,
Martelado vivo na emoção,
Absorvendo a dor do afeto,
Abraçando um só coração.