Palcos

Nos palcos da tragédia,

Encenamos choros fáceis,

Com risadas em trégua,

Em um despencar de faces.

Recolhendo sentidos,

Caídos no solo ríspido,

Consolando gemidos,

Fazendo-se Sísifo.

Cada gesto trêmulo,

Com mandíbulas frouxas,

Um teatro ingênuo,

Composto de arte frouxa.

Naquela dança,

De marionetes tortas,

Enforcadas em tranças,

Uma Rapunzel morta.

Delírios de um vício,

Comendo-lhe a carne,

Transformado em lixo,

Perdendo suas idades.

Perante os olhos da platéia,

Consumido pelo público,

Que uiva feito uma alcateia,

Colerizando-se em luto.

Apedrejando os fatos,

Buscando castigar a realidade,

Encolhido em um porta-retratos,

Suprimido na tela da desigualdade.

Adormecido em um leito eterno,

Caminhando apenas nos sonhos,

Relegado a condição de dejeto,

Sentindo pesar o último estrondo.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 06/09/2014
Código do texto: T4951594
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