Palcos
Nos palcos da tragédia,
Encenamos choros fáceis,
Com risadas em trégua,
Em um despencar de faces.
Recolhendo sentidos,
Caídos no solo ríspido,
Consolando gemidos,
Fazendo-se Sísifo.
Cada gesto trêmulo,
Com mandíbulas frouxas,
Um teatro ingênuo,
Composto de arte frouxa.
Naquela dança,
De marionetes tortas,
Enforcadas em tranças,
Uma Rapunzel morta.
Delírios de um vício,
Comendo-lhe a carne,
Transformado em lixo,
Perdendo suas idades.
Perante os olhos da platéia,
Consumido pelo público,
Que uiva feito uma alcateia,
Colerizando-se em luto.
Apedrejando os fatos,
Buscando castigar a realidade,
Encolhido em um porta-retratos,
Suprimido na tela da desigualdade.
Adormecido em um leito eterno,
Caminhando apenas nos sonhos,
Relegado a condição de dejeto,
Sentindo pesar o último estrondo.