Os Lados
Na busca lúdica de viver,
O sentido esmagado,
Que na ânsia de entreter,
Torna-se vômito enlatado.
Nas calcinhas do varal,
Indo e vindo conforme a brisa,
Com pregadores de avental,
Colorindo a paisagem de cinza.
Coletando a fuligem dos veículos,
No respirar asfixiante dos poros,
Em um mundo de homens ridículos,
Espalhando lápides antes dos corpos.
Para cada biblioteca mofada,
Uma quantidade de livros não lidos,
Restos de realidades golfadas,
Engasgados na agonia do último grito.
Espasmos que trincam os ossos,
Sangrando cada articulação vencida,
Na fuga da retina, solta dos olhos,
Amparadas pela sarjeta de sola doentia.
Quão trágico o cômico é,
Com a boca arreganhada,
Descalço, machucando os pés,
Fazendo-se moldura degenerada.
Pelo atrito das artroses atrozes,
O murmúrio dos miúdos,
Não passa de lamentação pobre,
Uma tosse de patético soluço.
Cada pose é um close,
Com aqueles motivos pálidos,
Uma entre tantas dores,
No parto de rebentos abortados.
Sofro o sopro do soco,
Que humilha o estômago,
No vazio que faz da boca, poço,
Na solidão de cada encontro.
Ricos de toda a pobreza,
Inanimados escombros,
Que da nuvem de poeira,
Faz surgir um sono, sem sonho.
Pare o sujeito para que o mundo aconteça,
Na encruzilhada de cada esquina esquiva,
Lançando os dados antes que carne apodreça,
Sorrindo da risada torta do corpo sem vida.
A última dança do baile,
Não faz a música dos milênios acabar,
Já que a valsa cria o entalhe,
Que o barroco do tempo irá decorar.