In-jus-feliz

Veja, mundo, o universo dança!

Nem toda órbita faz-se visível

Nos olhos cegados de serem humanos -

Que choram, que caem, às vezes profanos

Com a boca que abrem nem sempre audível

O ser que anda com pernas e sem distinção,

Que cruza os braços e chuta um não,

Reclama do alto deitado no chão

É longo, é baixo, um bom cidadão!

Vendo, de longe, mais uma criança

Ao velho desata ou ata por vaidade;

O ambíguo que nasce tão cedo circula

E o vesgo que enxerga mente a verdade -

A língua que grita com a vaia e é fula

Veja, mundo! Veja dentro de si!

Se tanto condenam aqueles que falam,

Se tanto azucrinam aqueles que calam,

Qual está a graça de viver aqui?

Sem graça, desgraça, perdeu o sentido!

Refaça, renasça, que tal novos filhos?

É só à colheita que acha-se a praga,

E só no plantio que colhem-se bons milhos;

Por que tacham doce a doçura amarga?

Por que tacham amor a pancada no ouvido?

Olvida, ouvida, olvida alma!

Tão tarde agora vê-se a loucura

E lá, tão distante, vê-se a calma

A perder o ritmo em curta fissura

E veja, mundo! Veja!

Veja no bolo a redonda cereja!

Que mal 'envolvida' ameaça a sumir

E que embaraçada esforça-se a sair!

"Adeus, mundo, adeus!" - Ela diz

Disposta a plantar, ser louca raiz...

Longe do descaso, ela nunca quis

Viver entre gente num mundo infeliz.

(Poesia crítica)

Tai Sant Ollem
Enviado por Tai Sant Ollem em 23/08/2014
Reeditado em 05/09/2014
Código do texto: T4934425
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