In-jus-feliz
Veja, mundo, o universo dança!
Nem toda órbita faz-se visível
Nos olhos cegados de serem humanos -
Que choram, que caem, às vezes profanos
Com a boca que abrem nem sempre audível
O ser que anda com pernas e sem distinção,
Que cruza os braços e chuta um não,
Reclama do alto deitado no chão
É longo, é baixo, um bom cidadão!
Vendo, de longe, mais uma criança
Ao velho desata ou ata por vaidade;
O ambíguo que nasce tão cedo circula
E o vesgo que enxerga mente a verdade -
A língua que grita com a vaia e é fula
Veja, mundo! Veja dentro de si!
Se tanto condenam aqueles que falam,
Se tanto azucrinam aqueles que calam,
Qual está a graça de viver aqui?
Sem graça, desgraça, perdeu o sentido!
Refaça, renasça, que tal novos filhos?
É só à colheita que acha-se a praga,
E só no plantio que colhem-se bons milhos;
Por que tacham doce a doçura amarga?
Por que tacham amor a pancada no ouvido?
Olvida, ouvida, olvida alma!
Tão tarde agora vê-se a loucura
E lá, tão distante, vê-se a calma
A perder o ritmo em curta fissura
E veja, mundo! Veja!
Veja no bolo a redonda cereja!
Que mal 'envolvida' ameaça a sumir
E que embaraçada esforça-se a sair!
"Adeus, mundo, adeus!" - Ela diz
Disposta a plantar, ser louca raiz...
Longe do descaso, ela nunca quis
Viver entre gente num mundo infeliz.
(Poesia crítica)