Cães de Lata
Na boca do lixo,
O latido reprimido,
Com hálito de vidro,
Amargando os silvos.
Com a mandíbula,
Dilacerando a ferrugem,
Ouvindo a ocre cantiga,
Embaixo da única nuvem.
Chuviscando respingos de solda,
Pressentindo o apocalipse da tarde,
Preso na moldura da engrenagem torta,
Nos arames enrolados em uma saudade.
Pegadas asfálticas,
Em campos pretos,
Com flores cálcicas,
Repletas de nervos.
Lâminas despontam das patas,
Esquartejando o ferro velho,
Abrindo os olhos arregalados de lata,
Fazendo da vida rota o seu cemitério.
Sucateando esse cio de consumo,
Pela reciclagem que se faz ferramenta,
Criando o uso do uso daquilo em desuso,
Montando a matilha que uiva e atormenta.
Cada osso de peça alimenta,
Roendo carcaças de maquinário,
Feito abutres de sistemas,
Com uma voracidade pelo trágico.
Cérebros apertados
Em mentes metálicas,
Comprimidas em aço,
Moldadas encefálicas.
O curto do circuito
É o fim do drama robótico,
Que zera o último minuto,
Deixando apenas chips micróbios.