Vitrine
Atrás dos vidros,
Projetos de gente,
Falsos gemidos,
Olhar deprimente.
As cabeças peladas,
Dos manequins ocos,
Estarão enfeitadas,
Com perucas de mofo.
Faltam os cérebros,
Dos decoradores lojistas,
No modismo sério,
Que busca novas vítimas.
No casaco de pele morta,
Com pelos domesticados,
Onde o sangue pouco importa,
Na troca de vida por trocados.
As luzes acesas pela madrugada,
Como um foco de lua presa,
Na represa de vitrines alugadas,
Os objetos que o consumo deseja.
Caros são os olhares vidrados,
Impedidos pela barreira envidraçada,
Se espreitando por portas, feito ratos,
Roendo os produtos feito migalhas.
Na estupefação da virilha sem sexo,
Reta e combinando com o resto do corpo,
Da criatura morta que vive sem nexo,
Fetichizando a castração captada pelo outro.
Projetos de gente que não são gente,
Deprimentes bonecos esquartejados,
Servindo aos desejos dos impotentes,
Fantasiando um carnaval de pacificados.
Na anulação da falta de olhar da criatura,
Que nos usa a cada vez que se travesti,
Em uma relação de vácuo que perdura,
Até nos tornarmos esse nada que nos despe.