Pela Arte
Dos pincéis tortos,
Vejo tsunâmicas aquarelas,
Rolando o sangue dos corpos,
Fazendo de nós, imensas favelas.
Sem teto, despidos de esperança,
Caminhamos pelas veredas podres,
Como putrefatos de dor ainda criança,
Convergindo em demoníacos amores.
De súplicas feitas com mãos de sangue,
Cobrimos os muros da falta de consciência,
Por mais que a dor alheia nos espanque,
Feito estátuas moldadas na solidez da arrogância.
Cada coração é um terreno baldio,
Muitos buscam essas sonhadas moradas,
Caindo nas ruas como apaixonados vadios,
Em uma manhã com face de criança corada.
As sombras desses miasmas sentimentais,
São o fogo fátuo que embeleza as madrugadas,
Ondulando ao redor de ilusões viscerais,
Recriando os pesadelos de emoções passadas.
E a tela feita de cidades esquecidas,
Esboça paisagens desérticas,
Cheias de vitrais com faces feridas,
Estampadas com expressões céticas.
No lampejo do raio que corta o céu,
Como o anjo caído que causa estrondo,
As mãos buscam desesperadas rasgar o véu,
Sufocadas pelo tecido formado de escombros.
Feito calabouços ao ar livre,
Onde a clausura é subjetivada,
Amargurados na interna crise,
O drama russo da pena privada.
Cegos mendigos desesperados,
Que não buscam a mão alheia,
Tropeçando nos pés machucados,
Seguindo a lama que os norteia.
E o esgoto de guache,
Inunda os olfatos mais rudes,
Na dança de ratos em disparate,
Reivindicando seu negro açude.
Vendo as caveiras risonhas,
Emergindo do lodo diário,
Como conhecidas estranhas,
Como seus olhos de hiato.
E na degola da criatividade,
Engessamos nossa estatuária vontade,
Martelando com severidade,
Os cravos que esmagam toda coragem.