O Corpo Fala
Os pés dizem passos,
Ao caminhar no solo,
Abrindo um compasso,
De pernas com ossos.
No ritmo de falanges,
Que pelos dedos instrumentaliza,
O que demais frágil que abrange,
Como se fizesse do tato, uma rima.
Na cadência da língua,
Que no céu da boca estala,
Vibrando com sua magia,
Criando a acústica da fala.
No respirar de poros,
Com o suor orvalhando,
Um rio que é só nosso,
Que de si vai entornando.
As madeixas levadas,
Pelo vento forte de verão,
Como uma roupa pendurada,
Que tremula sob forte tensão.
Na dança simples do movimento,
Que faz as articulações trabalharem,
Com torces e entorses de sentimento,
Fazendo objetos anatômicos espalharem.
Cada começo é o fim,
De outro começo deixado,
E um novo fim almejado,
Venha recompor o legado.
Substâncias incontáveis,
Um emaranhado de células.
Os orgânicos recicláveis,
Como flores perdendo pétalas.
Em cada ósculo adormecido,
A promessa de um afago,
Na esperança dos reunidos,
Que buscam um novo traço.
Sustenidos suprimidos,
Pelo silêncio da imaginação,
Fazendo-se templo submisso,
Pausando o mantra da respiração.
No pico da cabeça virada ao avesso,
Vê a vida de cabeça para baixo,
Embora as coisas estejam do mesmo jeito,
A perspectiva corrompe o fato.
Quando o coração insiste em bater,
As veias protuberantes esguicham,
O sangue coagulado antes de arrefecer,
Colorindo de púrpura aos olhos instigam.
Por entre os pelos cerrados,
Em savanas capilares,
Cobrindo o animal rejeitado,
Com seus invertidos polegares.
O ácaro lhe habita,
Como ele habita o mundo,
Um arrepio agita,
Feito um terremoto absurdo.
Na estrada de audições captadas,
Que rodopiam em ritornelos,
Chegando a suas janelas nasaladas,
Mastigadas por dentes martelos.
Engolindo porções de realidade,
Que o estômago dissolve,
Na mais singela tranqüilidade,
Diluindo o que nos comove.
Até que o cérebro consiga,
Captar alguma mísera razão,
Acreditando ser um coringa,
Que ao sujeito servirá de pão.