Colapsos
Vão ruindo as unhas,
Caindo das pontas dos dedos,
Parecem desejar uma fuga,
Tentando fertilizar o solo seco.
Os cabelos desprendidos,
Pendidos e perdendo cor,
Esbranquiçados e carcomidos,
Feito uma Medusa em torpor.
As mãos de falanges abertas,
Fazem saltar protuberâncias ósseas,
Marcando com sangue as janelas,
Escancaradas diante das vazias órbitas.
O peito de coração murcho,
Que definha para dentro,
Em erosão de graves sulcos,
Engolido pelo amargor do tempo.
As lanças perfuram-lhe as têmporas,
Vazando seu cérebro esquecido,
Com pontas coloridas de anêmonas,
Criando um jardim sério e hirto.
Nas nuvens da memória encolhida,
Pode-se avistar formas monstruosas,
Afugentando a imaginação reprimida,
Com agonias exuberantes, faustosas.
Pela boca de dentes serrados,
A cerca bucal que priva,
Não se alimenta por um recato,
Que nasce das pútridas vísceras.
Tudo ao alcance do degelo lacrimal,
Que salpica os lábios e estimula a língua,
Rasgada em duas partes, feito animal
De hábitos rastejantes e saliva ofídica.
Perfurando as vistas com gravetos,
Cravados sobre as pálpebras virginais,
Fazendo-se um cego que ludibria o medo,
Que move-se em círculos, formando espirais.
Um demônio metamorfoseado em gente,
Que se arrasta pelo mundo, feito um vadio,
Para muitos sua fisionomia é demente,
Mas consegue corromper a alma dos sadios.
Provando do néctar das veias,
Em um desejo insaciável de morte,
Vampiriza os corpos com destreza,
Domesticando e conduzindo proles.
O passado empoeirado marca o rastro,
No presente que esvoaça por inteiro,
Com oráculos que no futuro casto,
Buscam a tragédia do homem-cordeiro.