Colapsos

Vão ruindo as unhas,

Caindo das pontas dos dedos,

Parecem desejar uma fuga,

Tentando fertilizar o solo seco.

Os cabelos desprendidos,

Pendidos e perdendo cor,

Esbranquiçados e carcomidos,

Feito uma Medusa em torpor.

As mãos de falanges abertas,

Fazem saltar protuberâncias ósseas,

Marcando com sangue as janelas,

Escancaradas diante das vazias órbitas.

O peito de coração murcho,

Que definha para dentro,

Em erosão de graves sulcos,

Engolido pelo amargor do tempo.

As lanças perfuram-lhe as têmporas,

Vazando seu cérebro esquecido,

Com pontas coloridas de anêmonas,

Criando um jardim sério e hirto.

Nas nuvens da memória encolhida,

Pode-se avistar formas monstruosas,

Afugentando a imaginação reprimida,

Com agonias exuberantes, faustosas.

Pela boca de dentes serrados,

A cerca bucal que priva,

Não se alimenta por um recato,

Que nasce das pútridas vísceras.

Tudo ao alcance do degelo lacrimal,

Que salpica os lábios e estimula a língua,

Rasgada em duas partes, feito animal

De hábitos rastejantes e saliva ofídica.

Perfurando as vistas com gravetos,

Cravados sobre as pálpebras virginais,

Fazendo-se um cego que ludibria o medo,

Que move-se em círculos, formando espirais.

Um demônio metamorfoseado em gente,

Que se arrasta pelo mundo, feito um vadio,

Para muitos sua fisionomia é demente,

Mas consegue corromper a alma dos sadios.

Provando do néctar das veias,

Em um desejo insaciável de morte,

Vampiriza os corpos com destreza,

Domesticando e conduzindo proles.

O passado empoeirado marca o rastro,

No presente que esvoaça por inteiro,

Com oráculos que no futuro casto,

Buscam a tragédia do homem-cordeiro.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 23/02/2014
Código do texto: T4703248
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.