Rosto

O rosto,

Coberto pela sombra,

Daquele pequeno poço,

Formando uma face em coma.

O reflexo embasado,

Como neblina densa,

Que gruda no vidro do carro.

Paisagem que a visão atormenta.

Serenamente estampado,

Bordado por falsa delicadeza,

Insinuando a porcelana de um prato,

Deixando em suspenso as toscas certezas.

A máscara horripilante,

Com um beijo fossilizado,

Tornando o autor distante,

Criando um mundo inusitado.

Registro da civilização,

Que sua decadência grava,

Quando agravam as restrições,

Um eclipse que o sol não contava.

Ignorância em forma de arte,

Conduzindo uma engenharia,

Que promove o glorioso desastre,

Cultura esculpida de risíveis ninharias.

Talvez o dorso de um rosto,

Soberbo por se fazer ver,

Entronado na figura do desgosto,

Que escorre ao liquefazer.

Porção fotografada de um momento,

Escalada por gotas de vapor,

Como a esfinge de algum sentimento,

De olhar sem olhos e boca sem sabor.

Satélite lunar de uma noite matinal,

Que abriga as formas nessa arquitetura,

Manchando o espaço como se fosse o final

Daquele motivo banal que forjou a tecitura.

Caras irão se sobrepor,

Na busca pelo encaixe,

Feitas de estupor,

Enaltecendo o guache.

Até que o fantasma evapore,

Deixando a impressão,

No peito que se torna vale,

Da ilusão que na mente é depressão.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 31/01/2014
Código do texto: T4672885
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