Rosto
O rosto,
Coberto pela sombra,
Daquele pequeno poço,
Formando uma face em coma.
O reflexo embasado,
Como neblina densa,
Que gruda no vidro do carro.
Paisagem que a visão atormenta.
Serenamente estampado,
Bordado por falsa delicadeza,
Insinuando a porcelana de um prato,
Deixando em suspenso as toscas certezas.
A máscara horripilante,
Com um beijo fossilizado,
Tornando o autor distante,
Criando um mundo inusitado.
Registro da civilização,
Que sua decadência grava,
Quando agravam as restrições,
Um eclipse que o sol não contava.
Ignorância em forma de arte,
Conduzindo uma engenharia,
Que promove o glorioso desastre,
Cultura esculpida de risíveis ninharias.
Talvez o dorso de um rosto,
Soberbo por se fazer ver,
Entronado na figura do desgosto,
Que escorre ao liquefazer.
Porção fotografada de um momento,
Escalada por gotas de vapor,
Como a esfinge de algum sentimento,
De olhar sem olhos e boca sem sabor.
Satélite lunar de uma noite matinal,
Que abriga as formas nessa arquitetura,
Manchando o espaço como se fosse o final
Daquele motivo banal que forjou a tecitura.
Caras irão se sobrepor,
Na busca pelo encaixe,
Feitas de estupor,
Enaltecendo o guache.
Até que o fantasma evapore,
Deixando a impressão,
No peito que se torna vale,
Da ilusão que na mente é depressão.