In Versos
Como é bom,
Beijar com os braços,
A gente cheira o som,
Daquele toque dos traços.
Degustamos as palavras,
Escutando o tato do desejo,
Que busca nas suspensas passadas,
Voar com os pés no chão do terreno.
O aroma do sossego,
Que tem um hálito de vegetação,
Com suas peles de tempero,
Formando um vórtice de satisfação.
Aquilo que anima o fogo,
Que arde dentro de um peito,
É a chama que dá conforto,
Que não destrói ao queimar o sujeito.
Tempestades de brandura,
Fazem uma dança de nada,
Que salpica ranhuras,
Fazendo escoar a bravata.
Tocando o silêncio,
Desse gosto secreto,
Criam-se momentos,
De um humor indigesto.
Uma dança estática,
Que comove o frio,
A ponto da prática,
Fossilizar-se em rio.
Sabores presos,
Em um pé de frutos,
Feito leves pesos,
Prontos para o consumo.
A água na boca do deserto,
Que os ouvidos cavam,
Até que a narinas em gesto,
Nutrem os pelos que passam.
Cada poro é um aclive,
Um corpo cacto,
Que assim vive,
Repleto de grossos talos.
Planta carnívora,
Feita de carne de gente,
Também ovípara,
Chocando um ser insurgente.
O corpo se despedaça,
Intacto em suas quebras,
Caindo em eterna desgraça,
No abismo interno de várias quedas.
Pendurado em nuvens de rocha,
Cego da audição, que muda, se escala,
Avistando a planície da hora,
Que torna o tempo uma medíocre escada.
As poças de poeira,
Grudam nos cabelos,
Daquela calvície de lesma,
Que forma rastro de medo.
Cavando o céu,
Como se fosse um túmulo,
Atmosfera de mausoléu,
Somos nosso próprio cúmulo.
Escorados por ganchos de fumaça,
Feito marionetes de carne rija,
Descemos até os confins da trapaça,
Onde somos assoprados para uma rima.
A força do impacto,
Desses não encontros,
Forma um fechado hiato,
Fazendo de nós, belos monstros.