Colapso
Chega o momento,
As luzes se apagam,
Surge o movimento,
Todos ali se igualam.
Os ventos fortes,
Devastam as ruas,
Levando postes,
As avenidas nuas.
Os fios de cabelo,
Na cabeça do careca,
O que resta do novelo,
Adiante nada mais resta.
As bocas procuram,
Os beijos deixados,
Juízes não mais julgam,
Todos estão sentenciados.
A bebida escorre,
Misturada com a saliva,
A vegetação morre,
Última página da obra-prima.
Carros batidos,
Em repetidos desastres,
Cada um se faz bandido,
Banidos perante a catástrofe.
As flores murchas,
No buquê de túmulos,
A hidrografia das rugas,
Com lágrimas de nulos.
As camas feitas,
Sobre o deserto
De finas areias,
Ninguém tem teto.
Coragem covarde,
De quem se esconde,
Na força selvagem,
Que devora cada homem.
O sangue escorre,
Natural feito um rio,
Ensopando o estoque
De couros deprimidos.
O chão é espesso,
Gruda feito lama,
A perna de gesso,
Para, não anda.
A mãe embala,
Aquele filho sofrido,
O seio é a desgraça,
Com seu pestilento líquido.
Animais descarnados,
São adotados por estimação,
Lamentavelmente lacerados,
Abaixam a cabeça em resignação.
A reza sobre os escombros,
Da guerra constante,
Anunciam o que procuramos,
Uma atrocidade arrepiante.
Pequenas meninas,
Estupradas à revelia,
O mundo uma Índia,
Exaltam a covardia.
As palavras são morcegos,
Voando em busca de guarida,
Uma fresta e sentem medo,
Mas no escuro sugam as vítimas.
As cortinas caem,
Sobre os olhos cansados,
As mentes distraem,
Diante do que tem nos calado.
Abriremos avidamente o cancro,
Até a descoberta grosseira,
Que a doença é aquilo que somos,
Demônios da derradeira certeza.