Colapso

Chega o momento,

As luzes se apagam,

Surge o movimento,

Todos ali se igualam.

Os ventos fortes,

Devastam as ruas,

Levando postes,

As avenidas nuas.

Os fios de cabelo,

Na cabeça do careca,

O que resta do novelo,

Adiante nada mais resta.

As bocas procuram,

Os beijos deixados,

Juízes não mais julgam,

Todos estão sentenciados.

A bebida escorre,

Misturada com a saliva,

A vegetação morre,

Última página da obra-prima.

Carros batidos,

Em repetidos desastres,

Cada um se faz bandido,

Banidos perante a catástrofe.

As flores murchas,

No buquê de túmulos,

A hidrografia das rugas,

Com lágrimas de nulos.

As camas feitas,

Sobre o deserto

De finas areias,

Ninguém tem teto.

Coragem covarde,

De quem se esconde,

Na força selvagem,

Que devora cada homem.

O sangue escorre,

Natural feito um rio,

Ensopando o estoque

De couros deprimidos.

O chão é espesso,

Gruda feito lama,

A perna de gesso,

Para, não anda.

A mãe embala,

Aquele filho sofrido,

O seio é a desgraça,

Com seu pestilento líquido.

Animais descarnados,

São adotados por estimação,

Lamentavelmente lacerados,

Abaixam a cabeça em resignação.

A reza sobre os escombros,

Da guerra constante,

Anunciam o que procuramos,

Uma atrocidade arrepiante.

Pequenas meninas,

Estupradas à revelia,

O mundo uma Índia,

Exaltam a covardia.

As palavras são morcegos,

Voando em busca de guarida,

Uma fresta e sentem medo,

Mas no escuro sugam as vítimas.

As cortinas caem,

Sobre os olhos cansados,

As mentes distraem,

Diante do que tem nos calado.

Abriremos avidamente o cancro,

Até a descoberta grosseira,

Que a doença é aquilo que somos,

Demônios da derradeira certeza.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 31/12/2013
Código do texto: T4632110
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