Lepra

Cai os dedos,

Ao apontar,

Os alheios defeitos,

Só resta o polegar.

Caminhando com pés,

Que esfarelam no asfalto,

Perdendo toda a fé,

Pisa vacilante, em falso.

O beijo na boca,

Faz os lábios caírem,

Os dentes à solta,

Cai um a um ao rirem.

No chão, a língua

Se contorcendo toda,

Feito rabo de lagartixa,

As unhas estão soltas.

Os cabelos revelam,

A calvície maligna,

Os olhos despertam,

Rolam da órbita aflita.

O pênis desprende,

Feito estátua de barro,

Os testículos sentem,

Indo juntos pro ralo.

Uma Vênus de Milos,

Com formas masculinas,

Um Eros carcomido,

Quase expondo as tripas.

A lágrima escorre dos poros,

Sem olho para chorá-las,

Descendo feito rio de mortos,

Secando na face de mágoa.

A mascar terrível do rosto,

Esboça uma dor sombria,

Um fundo e tenebroso fosso,

Diabo que a sociedade repudia.

As feridas abertas,

São uma marca,

Parece que degenera,

Solitário com sua carga.

Comove um coração mais sensível,

Que acolhe sua horrenda aparência,

Fugindo da estética da moral possível,

Encontrando o sentimento de clemência.

Logo se tornará pó de carne,

Voltando a irrigar a terra,

Sendo um mártir da humanidade,

Descansando da sua vida-tragédia.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 19/12/2013
Código do texto: T4618096
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