CriaTuas
Comendo restos farelos,
São baratas que emanam,
Das mãos de fetos,
Feito poros que sangram.
Traças da liberdade alheia,
Invadindo corpos,
Uma cabeça se torna a aldeia,
Dessa tribo de ossos.
A degustação da carne humana,
Aumenta o desejo de apetite,
A realidade é mesmo insana,
A vida é uma guilhotina em riste.
Bebendo da fonte de cadáveres vivos,
Que escorrem no leito nodoso,
O mundo é seu momento de limbo,
Compondo um virtualismo de nojo.
Os pombos sem cabeça,
Rodopiam sem direção,
Nos postes as lesmas,
Causam um curto na fiação.
Massa encefálica nas calçadas,
Como um durepoxi nas gretas,
Narizes para o alto nas passadas,
Com pés desviando das valetas.
O sobretudo de percevejos,
Uma carapaça orgânica,
Com vaga-lumes em lampejo,
E a face de cerâmica.
O fígado deixa de crescer,
Os abutres estão famintos,
As chagas vão florescer,
Os vermes são mendigos.
O conto de bruxas,
Anoitece as páginas,
Borboletas sujas,
De assas soltas e pálidas.
Bocas abertas ao vento,
Engolindo moscas aos montes,
Um catalisador do tempo,
Com os olhos para o deserto do ontem.
O chapéu de formigas,
Roendo a cabeça calva,
Fazendo-se madeixas vivas,
Medusa com rosto de estátua calma.
As asas despenadas,
Expondo a pele machucada,
Envergando as espáduas,
Contorcendo feito uma fumaça.
Órbitas caveiras de inverno,
Avistando sombras de miragem,
Sobrevivendo no inferno,
Onde é rei de decrépita majestade.