Resto
Sou um despojo,
Daquele prato mendigo,
Expelido com nojo,
Tendo o lixo como abrigo.
Vomitado com desprezo,
Esparramado pelo batente,
De uma calçada do medo,
Acolhido na vala patente.
Desprezado como inútil migalha,
Aproveitado apenas por ratos,
Que são aproveitadores da desgraça,
Roendo-me em pequenos fiapos.
A vida não basta e por isso,
Me deixa aqui esquecido,
Jogado ao relento, sem abrigo,
O abutre como único amigo.
Não perco os sentidos,
Caindo no fosso abissal,
Com o rosto destemido,
Fito o céu como animal.
Bebo da poça que é sobra,
Da última tempestade,
Unidos em tosca desforra,
Imundos na barbaridade.
As penas valetas das ruas,
Abrem-se para a boca sedenta,
Esse gozo de água suja,
Que absorvo em estado de pena.
[M(a{cho)]cado}de pés descalços,
Apalpando o asfalto duro e infértil,
Diluindo em meio aos percalços,
Envolvido no mais mortal dos tédios.
O que resta ao resto,
Senão acomodar-se.
Na miséria, sem teto,
No espelho, um covarde.
Sente-se em pedaços,
Jogado em um monte,
Aguarda que venham juntá-lo,
Antes que perca o próprio nome.