Em Torpecido

Venham imagens disformes,

Compondo uma mente,

Alucinada por entorses,

De drogas usadas impunemente.

Vejo a distorção,

Daquilo que se fala,

O corpo sem ação,

Mole e reduzido a nada.

O gosto de coisa alguma,

Que a saliva produz,

A busca pela penumbra,

Desejando abrigar-se da luz.

A inquietação em espasmos,

Quase partindo os ossos,

Contorcendo feito um batráquio,

Com o suor saindo dos poros.

A fome de engolir-se,

Fazendo quase uma ostra,

Encruado ao agredir-se,

Tornando-se uma coisa.

O desejo pela morte rápido,

Escapando da longa agonia,

As formas que são um presságio,

Corroendo até a dorsal espinha.

Espanca a face apática,

Morde a língua ingrata,

Rasga a pele elástica,

Degola com as suas patas.

Rasteja pelos corredores,

Indo em direção a saída,

Confrontando os raios solares,

Fugindo daquelas malditas seringas.

Os gemidos de dor alheia,

A falta de sensibilidade dos jalecos,

O sangue esguichando da veia,

A tontura causada pelos remédios.

Nem o repouso do lar,

Dá conta do desespero,

Caindo na cama ao deitar,

Um prisioneiro do medo.

Nem mesmo boas expectativas,

Como um tesão de mulher ao lado,

Ou a chance de liquidar as dívidas,

Podem empolgar esse ser castrado.

Fita o teto que não retribui,

Querendo rasgar o colchão,

O inferno é melhor que aqui, deduz,

Cavando sua desesperança feito um cão.

Seu coma é a fome de si,

Buscando estripar-se,

Sabe que está longe do fim,

Isso o faz arrepiar-se.

Que eu não tenha pinto,

Nem vida e menos ainda,

Um cérebro para sentir isso,

Melhor a existência vegetativa.

Os olhos são o reflexo,

Da escuridão que cresce,

Quando perdemos o nexo,

Fazendo de nós um entregue.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 19/11/2013
Código do texto: T4577981
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