Em Torpecido
Venham imagens disformes,
Compondo uma mente,
Alucinada por entorses,
De drogas usadas impunemente.
Vejo a distorção,
Daquilo que se fala,
O corpo sem ação,
Mole e reduzido a nada.
O gosto de coisa alguma,
Que a saliva produz,
A busca pela penumbra,
Desejando abrigar-se da luz.
A inquietação em espasmos,
Quase partindo os ossos,
Contorcendo feito um batráquio,
Com o suor saindo dos poros.
A fome de engolir-se,
Fazendo quase uma ostra,
Encruado ao agredir-se,
Tornando-se uma coisa.
O desejo pela morte rápido,
Escapando da longa agonia,
As formas que são um presságio,
Corroendo até a dorsal espinha.
Espanca a face apática,
Morde a língua ingrata,
Rasga a pele elástica,
Degola com as suas patas.
Rasteja pelos corredores,
Indo em direção a saída,
Confrontando os raios solares,
Fugindo daquelas malditas seringas.
Os gemidos de dor alheia,
A falta de sensibilidade dos jalecos,
O sangue esguichando da veia,
A tontura causada pelos remédios.
Nem o repouso do lar,
Dá conta do desespero,
Caindo na cama ao deitar,
Um prisioneiro do medo.
Nem mesmo boas expectativas,
Como um tesão de mulher ao lado,
Ou a chance de liquidar as dívidas,
Podem empolgar esse ser castrado.
Fita o teto que não retribui,
Querendo rasgar o colchão,
O inferno é melhor que aqui, deduz,
Cavando sua desesperança feito um cão.
Seu coma é a fome de si,
Buscando estripar-se,
Sabe que está longe do fim,
Isso o faz arrepiar-se.
Que eu não tenha pinto,
Nem vida e menos ainda,
Um cérebro para sentir isso,
Melhor a existência vegetativa.
Os olhos são o reflexo,
Da escuridão que cresce,
Quando perdemos o nexo,
Fazendo de nós um entregue.