Caem as Folhas
Caem as folhas,
Como os dias,
Que são bolhas,
Em forte ventania.
Os anos vão caindo,
Gente que nasce e morre,
As idades vão surgindo,
A vida é jogo, azar e sorte.
Andamos com pés tortos,
Tateando falsos caminhos,
Homens bons são poucos,
Eis o que dizem os sabidos.
Quem é sábio nesse mundo,
De disputas e irracionalidades,
O sujeito se imagina um tudo,
Mas não passa de outra trivialidade.
Os santos sepultados,
E a busca por mártires,
Os vivos são surrados,
Trabalhando até tarde.
Vamos passando as páginas,
Dessa árvore de vivência,
Muitas serão as nossas lágrimas,
A felicidade também nos alimenta.
Um dia paramos de frente,
A uma poça da última enxurrada,
O espelho se mostra sorridente,
Uma forma que destoa na imagem aguada.
Se formos beber um pequeno gole,
Engasgamos com nossa sujeira,
Difícil é digerir a consciência torpe,
Por isso fechamos os olhos com destreza.
Somos castos de olhar,
Diante da impureza desse oásis,
Saciando a sede de se apossar,
Renegando a famigerada e nua face.
De volta ao Éden renegado,
Mergulhados na inocência perdida,
Limpos da dor do dia-a-dia,
Purificados pelo auto-engano que glorifica.
No altar somos erguidos,
Por nossas próprias mãos,
Um ídolo recém surgido,
Que adora a si com emoção.
Emocionados com o despertar do tronco,
Que sacode a copa densa com sua rigidez,
Espalhando folhagem, seguida do sopro-ronco,
Acordando os astros em eterna embriaguez.