Realidade

Vida cheia de cicatrizes,

Com mãos de vidro,

Tateando as ruas vitrines,

Em calçadas de mendigos.

O céu está lá,

Ainda que não estivesse,

Quem sabe como voltar,

Para a inocência que envelhece.

Sombras de um dia amargo,

Capturando motivos alheios,

Embaixo das marquises um trago,

Gente enterrada em covas-canteiros.

Se pudéssemos ter,

Um pé de gente no jardim,

Quem sabe me dizer,

Que fruto vingaria em mim.

Os espelhos das poças,

Salpicando lama nos bichos,

Sujando as engomadas roupas,

Como se fizesse algum sentido.

Boquiaberto papando moscas,

Farto de tanto vento engolir,

Cheio de um nada que me dá sopa,

Engatinhando por não dormir.

As mãos rezam sem fé,

Com os pulmões assoprando,

Um assovio caminha em marcha ré,

Um furacão que vai rodopiando, piano, piando.

Como é bom ser surpreendido,

Por essas mesmas surpresas,

Buquês de sorrisos lindos,

Ornamento de raras belezas.

Amo por pura vaidade,

Pois que seja um pecado,

A vida escoa as idades,

Sou um vão sujeito ordinário.

As manhãs de fim de tarde,

Encobrem as vistas devastadas,

Eu te amo, minha verdade,

Por ser a última das minhas tábuas.

Sou um desconstrutor de pontes,

Promotor de deliciosos abismos,

Servindo de incansável fonte,

Para os que buscam um suicídio.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 14/10/2013
Reeditado em 23/10/2013
Código do texto: T4525507
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