Cale-se

Eu quero que faltem palavras,

Diante do absurdo do mundo,

Que minha fala seja trágica,

Por conta desse abismo profundo.

Ver as misérias das ruas,

Parece uma punhalada,

Sei que isso é minha culpa,

Condeno a pessoa humilhada.

Que triste mundo de famintos,

Crianças de uma prole maldita,

Nos lixos encontramos desperdício,

Peço restos podres dessa tosca marmita.

Faltam moradias,

Apesar de sobrar terras,

O forte vive da covardia,

Oprimindo com tolas guerras.

Esse rosto diante do espelho,

Reflete toda essa angústia,

Um filho consciente do desespero,

Bebendo o sangue que jorra das lutas.

Um pássaro de asas cortadas,

Caindo ao tentar voar,

Esborrachando em sujas calçadas,

Lágrimas que nos ralos só faz gotejar.

As barrigas de espera,

Carregando novos sofredores,

Nascem novas eras,

Compondo esse espetáculo dos horrores.

Mudo por não ter o que dizer,

Administrando o pessimismo,

Tudo há de perecer,

Eis a lógica desse niilismo.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 19/04/2013
Código do texto: T4249703
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