Filho da Desesperança
Caminhai sobre esse solo,
Que os pés leprosos,
Esfarelem, feito fortes votos,
Caminhante sem colo.
Carrega o estigma,
Banido da civilização,
A tragédia é sua sina,
Andarilho da destruição.
A que ventre maldito,
Tu pertences?
Desventurado peregrino,
A cada passo, convalescente.
Portador das chagas,
Que corroem a alma,
Enxergando a desgraça,
Que é amiga fausta.
Busca infinita pelo nada,
Que as pegadas impressas,
Dão um sentido de praga,
Um demônio da nova era.
Sede insaciável de sangue,
Sua carne implorando,
Que a ferida aberta, estanque,
Rosto sem lágrimas, em pranto.
Os vermes habitam sua pele,
Corroendo a matéria pútrida,
Hienas que vorazes que se servem,
Da porção exposta da sua existência imunda.
Faz um culto velado,
Com fé decadente,
Tornando-se prostrado,
Um sujeito demente.
Os dentes expostos,
Com sorriso forçado,
Da gengiva vê-se os ossos,
Caninos longos e cerrados.
Farrapos cobrem-lhe o corpo,
Que é de proporções enormes,
Monstro que se faz de morto,
Pesadelo para os de má sorte.
Sinistra imagem andante,
Selvagem em sua natureza,
Maldição dos delirantes,
Um diabo, uma adorável besta.
Com fúria nos olhos em chama,
Fita os desesperados de forma dura,
Levantam as mãos aos céus e clamam,
Mas acabam sucumbindo a sua postura.
— Eu não sou Satã, Satã é você.
O espelho revela a outra face,
Os deuses caem mortos ao entardecer,
O homem enxerga em si, a crueldade.