Feto
Dejeto de placenta,
Expelido no mundo,
Forma nojenta,
Considerado imundo.
Criatura desgarrada,
Vazado para fora,
Do corpo da grávida,
A boceta era a porta.
Fodera a mãe,
Freud talvez explique,
Os choros canções,
Do berreiro chilique.
Poderia fumar,
Se tornar capa do maço,
Sem muito lutar,
Mais um morto pelo tabaco.
Rodando esse cordão,
Que logo cairá,
Verme em decomposição,
Que se destruirá.
Vida com porvir,
Nessa realidade de merda,
Antes logo partir,
Do que ter essa espera.
Natimorto por opção,
Esquecendo tolos lamentos,
Recusando a oração,
Renegado e triste rebento.
Banhado no sangue uterino,
Da escuridão acolhedora,
Para a luz de raios ferinos,
Existência sofredora.
Marginal fora do lar,
Tentando sobreviver,
Pequeno diabo a vagar,
Odeia ter de se fazer.
Apela para a infertilidade,
Não deseja outros iguais a ele,
Ódio que nasce com precocidade,
Não se deve nascer mais vezes.
Filho mal gerado,
Obrigado a existir,
Ex-detento obrigado,
Condenado a sair.