Medo
O medo move,
O que receia,
No corpo corre,
Incendeia.
Percorre os sentidos,
Busca tatear-nos,
Causando arrepios,
Somos por ele usados.
Olhos perdidos,
Buscando a fuga,
Diante do temido,
Uma dura luta.
Mãos trêmulas,
Tocando o invisível,
Horas ingênuas,
De um tempo terrível.
Escalando a morte,
Dessa esperança vadia,
Que é traidora consorte,
Apunhalando-nos todo dia.
Lágrimas de sangue,
Salpicando o peito,
Fazendo do instante,
Um eterno desespero.
Bocas que gritam mudas,
Contidas pelo pavor,
Que é corvo, da defunta
Língua que se calou.
Absorvendo pedaços,
Desse horror diário,
Deixando-nos escravos,
De um apego carrasco.
A mente ocupada,
Pelas tentativas inférteis,
De fugas alienadas,
Com pensamentos débeis.
Ouvindo o eco do silêncio,
Vibrando nos tímpanos profanos,
Feito doce e lento veneno,
Que dilacera o que há de humano.
Correndo sem pernas,
Num flutuar da agonia,
Como fantasma que erra,
No poço de sua euforia.