Pastel de Vento
Saboreio a massa,
Repleta de parasitas,
Vejo a desgraça,
Verme que nela habita.
O vapor quente,
Que sobre e queima,
Minha boca doente,
Faz com que me retenha.
Nada de recheio,
Bem que poderia ter
Uma carne no meio,
Tempero pra valer.
Mas me foram recusados
Os órgãos desse corpo vazio.
Uma casca sobre o prato,
Com gordura que desce em rio.
Os espetos de corações,
Com diversos frangos expostos,
Mortes de gerações,
Saciando a fome de gulosos.
Cerveja gelada,
Bebida em goles longos.
Um “Aahh!!”, de farra,
Olhos caídos de sono.
Putas vestidas de senhoras,
Com roupas comportadas
E olhares de flerte entre sacolas.
Verdadeiras vadias recatadas.
Homens com barrigas redondas,
Risadas altas e baforadas de tabaco,
Dentes amarelos e sem vergonha,
Um desfile patético de mal amados.
Feirantes erguendo a barraca,
Enquanto certos velhos,
De cueca ceroula esticada,
Olham meninas de chinelo.
Crianças no pula-pula,
Cata ventos circulando,
Como girassóis de lua,
A brisa noturna chegando.
Na mesa, um livro,
Exposto em contraste,
Talvez já tenham lido,
O título atiça a curiosidade.
Jovens, acreditando tudo conhecer,
Exibem, imponentes, seus corpos,
Todos os ditos sãos, hão de enlouquecer,
Mas fingem não seguir o estereótipo.
Continuo degustando esse pastel de vento,
Flutuando nessa neblina gordurosa,
Ignorando esse fator farsante, chamado tempo,
Dando beijo nos lábios de uma morena gostosa.