Sob à Luz de Uma Triste Vela

Sob à luz opaca de uma triste e agonizante vela sozinha à mesa

Observava atentamente a porta robusta como uma miserável presa

Despida e acorrentada pelos pulsos finos e carne viva à mostra.

Há dois dias sem alimentos eu lutava com o desconhecido para sobreviver

Pela fresta da grande janela me arrepiava com o último anoitecer

Exausto e esquecido eu deitava no assoalho imundo e implorava uma resposta.

As baratas pisoteavam-me com desdenho e tamanha indiferença

Defecavam em minha enrugada face e deixavam claro a sentença:

-Insignificante e desalmado! Aberração deixada nesse recanto insólito e hostil!

Os meus gritos de desespero se perdiam entre os móveis, e retornavam aos meus ouvidos

Os ratos sedentos de fome cravavam os dentes e incitavam os meus gemidos

As traças e aranhas aguardavam ansiosas na fila para devorar esse corpo febril.

O odor de sangue fresco foi levado por ventos traiçoeiros para inúmeros cantos sombrios

As vozes estridentes atrás da porta espantaram os insetos para imensos buracos vazios

Como animais selvagens arrebatavam a parede com estrondos ensurdecedores.

Em questão de segundos eu partirei para um mundo horripilante mergulhado em escuridão

Mas ainda com um pingo de esperança, eu tento fabricar forças inexistentes em minhas fracas mãos

Sem êxito eu caio apático, e espero as sediciosas pestes demoníacas em seus corpos subversores.

Vejo uma gigantesca foice negra dilacerar a madeira nobre da sala modesta e apodrecida

Dezenas de seres decompostos arrancam-me das correntes grossas, e a minha visão torna-se escurecida

Imploro com lágrimas vermelhas que me deixe nesse triste lugar, que não se apoderem de minha alma doente.

Em gargalhadas que petrificam os corações temerosos, me arrastam para fora da casa em demasiada fúria

Extirpam os meus membros em gestos lentos, queimando-me as partes íntimas e esbravejando desnorteante injúria

Enterram-me ainda com os olhos à procura de um salvador: Mas logo eles se fecham, pois a espera é ilusória, é impossível, incoerente!

http://alexmenegueli.blogspot.com.br/ (14/11/2012)