Talheres

Abre-se o leque,

Composto de ferramentas,

Chamadas talheres,

Que ao homem civilizado sustenta.

Com as porções de colher,

É possível amparar o líquido,

Sem uma ferocidade sequer,

Como expôs Norbert Elias em livro.

Quisera tomar desse caldo vaginal,

Bebendo em goladas secretivas,

Sopa feminina sem igual,

Com pelos boiando de forma seletiva.

Os garfos pontudos,

São a herança de Poseidon,

Seguram de um tudo,

Não passam de convenção.

Furo esse corpo de poros,

Abrindo espaços com orvalho sanguíneo,

A dor é algo que ignoro,

Ferindo você eu me realizo.

Facas com suas pontas em lança,

Rasgam sem piedade,

Destrinchando o que alcança,

Nossa arma de verdade.

Abro o ventres arredondados,

Expondo fetos precoces,

O aborto é um exótico prato,

Tenho hábitos alimentares ferozes.

Essa concha é larga,

Faz de si um poço raso,

Deixa boiar a carga,

Vejo nela nacos naufragados.

Nessa escumadeira escoa,

Feito peneira sádica,

Que ri do que por si ecoa,

Fazendo do conteúdo uma lástima.

Pegadores são pinças gigantescas,

Separando esse espaguete-verme,

Utiliza de larga destreza,

Seleciona na mistura o que lhe adere.

A madeira lhes dão traço rústico,

O metal dá garantias de higiene,

A prata torna algo mais de luxo,

O outro é de exibição para pouca gente.

Seguro o buço com o garfo,

Cortando o lábio,

Amparando a saliva do prato,

Salgando a língua em pedaços.

No seio exposto na tigela,

Feito um pudim flácido,

Retiro com a lâmina a auréola,

Mordiscando o mamilo rosado.

O pênis divido em dois,

A glande feito salsicha,

Prato alemão que compôs,

Testículos com margarita.

Vulva fatiada,

Pentelhos são a salada,

Clitóris na empada,

Ânus boiando na feijoada.

Tesoura que corta articulações,

Espremedor esmagando dedos,

Martelo de carne causando convulsões,

Ralo moendo a pele junto com os pelos.

Sangue é molho pardo,

Sêmen se faz molho branco,

Urina tempera mais ácido,

Fezes são massas que modelam outro tanto.

Espátula que esparrama lágrimas,

Espetos que penetram olhos,

Abridores que quebram a caixa torácica,

Saca rolhas que faz expor os miolos.

A gaveta expõe a arte,

Sirvo-me das ferramentas,

Artesão da cozinha do desastre,

Mestre do que machuca e atormenta.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 24/07/2012
Código do texto: T3794427
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