Ballet

Estamos todos parados,

Estátuas do absurdo,

Fomos congelados,

O som se fez de mudo.

Um dançarino,

Sem movimento,

Parece figurino,

Da falta de tempo.

Nem servimos de paisagem,

Somos arte viva concentrada,

Dispersos na própria imagem,

Dando forma a ideia impensada.

Matamos o ritmo,

Estagnados feito zumbis,

Nos fazemos finitos,

Vivendo por um triz.

Triste é nossa sina,

Encerrados em corpos,

A morte feita em vida,

Esculturas de misantropos.

O espaço é nosso cárcere,

Fixados em um plano,

Decadentes e frágeis mártires,

Observados por outros desumanos.

As máscaras faciais,

Não esboçam risada,

Só a agonia de marginais,

Agrilhoados nessa cela privada.

As moscas rodopiam,

Sem ao atrevimento de intervir,

Os pelos não se arrepiam,

A pele parece não ser possível despir.

Os ossos tesos,

Fortalecem a estrutura,

Bonecos secos,

Fantoches de musculatura.

Um enxerga o dorso do outro,

Talvez uma face de perfil,

Vemos menos cara e mais pescoço,

Não identificamos o outrem servil.

Parecemos livros esquecidos,

Enchemos uma estante e empoeiramos,

Mas no máximo o título é lido,

Ficamos a vida toda ali esperando.

Nossos gestos são mímicas,

Sombras que imitam,

Uma natureza embrutecida,

Aleijados que não transitam.

Desprezamos objetos contracenando,

Basta esses medonhos ventríloquos,

Contrastam o ambiente com seu jeito profano,

Maquetes de um espetáculo para apocalípticos.

Bailarinos apáticos,

Exibem um físico doentio,

Sonâmbulos catárticos,

Olheiras fundas e retina sem brilho.

Os gêneros ressaltados pelas genitálias,

Uns com mais outros com menos pelos,

Alguns com proporções avantajadas,

A harmonia está na condição de presos.

Um ballet cadavérico,

Montado para ser estéril,

Personagens patéticos,

Representando o mistério.