Asas

Asas que me ferem,

Com seu vôo impertinente,

Não sei o que querem,

Só contemplo o ser movente.

São extensões que classifico,

Chamo de braços emplumados,

Mas sei que pra mim minto,

A curvatura é de algo inusitado.

Cortam o ar que tento respirar,

Rasgando o vento que é véu passivo,

Rodopiando em um vórtex de arrepiar,

Me sinto um deslocado deprimido.

O bater das plumas,

Dão uma leveza extra,

É uma leve figura,

Que dança sem cabeça.

Demônio louco e solto,

Enfurecido pelos céus,

Invertendo o fatal jogo,

Anjo outrora, agora réu.

Aerodinâmica magnífica,

Alçando o chão de cima,

É fonte de inspiração mística,

Com uma graça que parece cínica.

Corre sem utilizar os pés,

Agarrando com ausência de mãos,

Faz admiradores, fiéis,

Angariando sacrifícios por emoção.

Soltando penugens que enfeitam,

Uma chuva que toca feito sereno seco,

Surgindo sorrisos dos que contemplam,

A alegria exacerbada tenda conter o medo.

Uma acolhida de abraço plumoso,

Com garras retráteis ocultadas,

Existe uma epiderme de tecido rugoso,

O fascínio das penas acumuladas.

Varrendo folhas resistentes,

Desfolhando árvores anciãs,

Fazendo os da terra olharem fixamente,

Para algo além da mediocridade malsã.

Totens em busca de avatares,

Herança de seres fluídicos,

Desejosos por reinar em diferentes lugares,

Um metamorfo com auspícios de anfíbio.

Arranca os braços e acopla asas,

Empurrando o corpo contra a gravidade,

Fênix que já se faz de cinzas apagadas,

Morrendo, por ser essa sua criatividade.