Transmutação

Abro essa boca,

Sem sexo,

Me nego,

A realidade é pouca.

Esses seios,

Passo as mãos,

Lisos eles são,

Retos por inteiro.

Não sai leite materno,

Apenas encaracolados pelos,

Tenho apenas um peito,

Dádiva renegada aos patéticos.

O ventre sem feto,

Abdômen aflito,

O reprimido grito,

Nosso terreno inferno.

Abro as pernas,

Sem vulva no meio,

Um clitóris bem cheio,

Balançando entre a brecha.

Sem o orifício vaginal,

Contemplo outra penetração,

Mais dolorosa pela pressão,

Numa simbiose anal.

De quatro somos todos quadrúpedes,

Com rabos cortados, cotós castrados,

As patas em membros para dentro voltados,

Vivemos em uma espécie de rito fúnebre.

Sem menstruar,

Sangro por cortes,

Fissuras em prole,

Um louco a se rasgar.

Macho que penetra fêmea,

Na busca de sua feminilidade,

Talvez outra masculinidade,

Enredado em sexuais estratagemas.

Em vez de gozar,

Abro as comportas,

Sêmen que jorra,

Um ato de derramar.

Abro e fecho as pernas,

Abaixo e levanto a saia,

Ereto e depois forma flácida,

Um instantâneo passar de eras.

Recebo o mundo,

Engolindo gotas expelidas,

Absorvendo a ácida vida,

Provando um pouco desse tudo.

Expulso em outro momento,

Renegando o antes desejado,

Pois o recebido se torna desagrado,

Jogado para fora como vil excremento.

Abro para você e fecho para mim,

Bebendo até ficar engasgado,

É dor de coito agressivo de gatos,

Sofrimento de um parto sem fim.

No rosto de maquiagem barbeada,

O sorriso trágico do homem,

Que grita em vez de Amon, Amén!!

Casto pela moral de gênero castrada.