O pampa e outras planícies
Obras de arte de papelão e sonhos.
Em cada uma, uma paranga papelote
Produto vasilha bonde chamego família;
Uma cacaria cacofônica de inutilidades
Que encaixariam-se redondinho
Nestes metros quadrados de minha miserável propriedade.
Aos cubos, aos retângulos,
Aos obstáculos geométricos do quotidiano
Que poderiam
Tornar a vida mais coerente e tudo ser pampa.
Tudo ser pampa para sempre,
Pois o pampa começou para ser
Para sempre.
O pampa correu macio e feroz
Desde que acreditou que
Nunca mais pararia.
O pampa queria dominar o mundo.
Mas suas intenções não tinham nada
A ver com dominação e arrogância.
O pampa só queria ser o mundo.
O Pampa queria ser a única planície do mundo.
Queria ser a grande monotonia do mundo,
A grande falência do mundinho triste e nosso.
Rolando neste solo sem aclives e esperanças,
Ainda nos iludimos crentes com a felicidade;
Preferimos a verdade acima de tudo.
Não podemos dormir nos lembrando
De algum teatro que não seja nascido do capim gentil
E do ar pestilento.
Do contrário do meu olfato alucinógeno
E sendo quase burocrático chato esquizofrênico.
Os zebus e pescadores e maconheiros e amaricás;
Os operários das granjas e aqueles que estão nas mãos
Dos outros.
Aqueles que permanecem na mão dos outros.
E aqueles outros que não fazem parte,
Aqueles outros que não estão nas estatísticas,
Mesmo que sejam alguma numeração do que não conta.
Algum número que seja totalmente neutro.
Um número que seja tão inexistente que negue o zero.
Um número que seja tão indiferente ao negativo
Que esteja morto ou imensamente vivo,
Nunca moribundo e planejando cinismos.
Mesmo que seja algum obrigatório censo
Para catalogar todos aqueles seres que pensam em paralelo.
16/01/2010