O pampa e outras planícies

Obras de arte de papelão e sonhos.

Em cada uma, uma paranga papelote

Produto vasilha bonde chamego família;

Uma cacaria cacofônica de inutilidades

Que encaixariam-se redondinho

Nestes metros quadrados de minha miserável propriedade.

Aos cubos, aos retângulos,

Aos obstáculos geométricos do quotidiano

Que poderiam

Tornar a vida mais coerente e tudo ser pampa.

Tudo ser pampa para sempre,

Pois o pampa começou para ser

Para sempre.

O pampa correu macio e feroz

Desde que acreditou que

Nunca mais pararia.

O pampa queria dominar o mundo.

Mas suas intenções não tinham nada

A ver com dominação e arrogância.

O pampa só queria ser o mundo.

O Pampa queria ser a única planície do mundo.

Queria ser a grande monotonia do mundo,

A grande falência do mundinho triste e nosso.

Rolando neste solo sem aclives e esperanças,

Ainda nos iludimos crentes com a felicidade;

Preferimos a verdade acima de tudo.

Não podemos dormir nos lembrando

De algum teatro que não seja nascido do capim gentil

E do ar pestilento.

Do contrário do meu olfato alucinógeno

E sendo quase burocrático chato esquizofrênico.

Os zebus e pescadores e maconheiros e amaricás;

Os operários das granjas e aqueles que estão nas mãos

Dos outros.

Aqueles que permanecem na mão dos outros.

E aqueles outros que não fazem parte,

Aqueles outros que não estão nas estatísticas,

Mesmo que sejam alguma numeração do que não conta.

Algum número que seja totalmente neutro.

Um número que seja tão inexistente que negue o zero.

Um número que seja tão indiferente ao negativo

Que esteja morto ou imensamente vivo,

Nunca moribundo e planejando cinismos.

Mesmo que seja algum obrigatório censo

Para catalogar todos aqueles seres que pensam em paralelo.

16/01/2010

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 07/12/2011
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