Objeto Suave

Paira sobre nós,

Talvez sob também,

Entrelaça-nos feito cipó,

Mas algo de rigidez aquém.

Suave por se fazer brisa,

Menos densa que algo aéreo,

Escorre já que não fossiliza,

Quase o chamamos etéreo.

Sua uma vez ou outra,

Creio que repetidas vezes,

Intervalo rápido que ressoa,

Nos tona sem darmos conta, fregueses.

Somos sua vítima,

Apesar de barganharmos,

Comércio que continua,

Num momento flutuamos.

Leveza insustentável,

Sustentada em pêndulo,

Oscila num ritmo alienável,

Percorre espaço imenso.

Sua vida efêmera,

Baila sobre dogmas,

Repele o que orienta,

Corrompe a história.

Clareira aberta,

Expondo uma área fértil,

Ali tudo se projeta,

Produz no seu aparente estéril.

Cria relações,

Faz vacilar certezas,

Certa das imprecisões,

Cria cisões gigantescas.

Incomparável objeto,

Ainda que se compare a si,

Mesmo sendo seu reflexo,

Sabe que é outro a existir.

Sopro impelido por força invisível,

Movimento que tenta ser lógico,

A busca pela Ratio do Cogito ainda presumível,

Território por nós inóspito.

Variando sua forma sem sair dela,

Elemento em transformação,

Mutagênese que não passa de ameba,

Parado em fluxo de rotação.

Tentamos pegar mas escapa,

Capa-nos a garra lançada,

Frustração castrada,

Ação de morte esperada.

Chega quase a um vazio,

Mas é nada ainda valorizado,

Volátil demais para ser retido,

Bruto pra tornar evaporado.

Calmaria preocupante,

Sabemos que antecede a tormenta,

Estado nauseante,

Na proa a aflição nos atormenta.

O aquoso ainda é denso,

Nem no nível molecular,

Muito menos atômico, eu penso,

Difícil de conceituar.

Fugaz nômade,

O mais fixo de todos,

Preso a um ciclo que consome,

Só é capturado por possuir um corpo.

Nos recônditos se abriga,

A distância não impede o alcance,

Cansamos dessa briga,

Mas é batalha de duração eternizante.

Temporal apenas pela necessidade,

De fixar-se nesse Tempo que é nada,

Molda modelos em moda de falsidade,

Idade que lhe falta por menosprezá-la.

Objetivado por nós que objetivamos,

Mas oculta-se mesmo assujeitando,

Sujeito oculto que espreitamos,

Aparece tácito para induzir enganos.

Derrete por não se reter,

Não mais escorre, ele corre,

Em contato nos faz pró-ceder,

Na resistência que mais nos envolve.

Faz parte do que somos sem que nos seja,

Simbiose não é o termo adequado,

Essa ligação harmônica não pode ser feita,

Atritos nos tornam afinados.

O fim está longe disso,

Quanto mais um começo,

Quase um subjetivo,

Focamos a tensão do meio.

Esse centro é móvel pela temporalização,

Mas nele temos implícito futuro e pretérito,

Cada gesto possui uma pluralização,

O certo é caminharmos num Tao incerto.

Yin e Yang mesclados,

São de um cinza opaco,

Ótica de multifocados,

Processo acelerado.

Nessa relação,

A idéia de fora ou dentro da caverna,

Deve ser deixada de lado com respeito a Platão,

Nunca existiu uma caverna nessa conversa.

Classificar como liberdade,

Seria algo desproporcional,

Grilhões aparecem com gravidade,

Mas não rejeitamos uma alegria frugal.

Brinca entre o duro e o mole,

Um e outro o aniquilaria,

Assim desvia de moldes,

Gangorra de poderosa maquinaria.

Ignora metas, é físico em última instância,

Por isso não pretende uma meta-física,

Talvez intrometido físico por ignorância,

Por ser tão trágico é que sorri em demasia.

Suspensa criatura que na altura pensa,

Cria penalidades ao mover-se,

Detento que tenta rir de sua própria pena,

Consegue seguir num habeas corpus que o reteve.

Quanto mais aberto, fechado em si,

Volta que re-volta num cíclico caduceu,

Comete o delito tentando se redimir,

Legisla, julga, executa, mais que deus.

Suavíssimo que chega a mentir,

Faz-se passar por simulacros,

Iludidos acreditamos poder sentir,

Temos sutis ressonâncias do passado.

Precisaríamos suavizar juntos,

Feito quando rodamos e o mundo gira,

Mas causaríamos no que fazemos existir, um luto,

Desarrumados em rumores de engessada serventia.