Decadente

Sou um decadente,

Me orgulho disso,

Algo diferente,

Que considero frutífero.

Não pretendo seguir cadências,

Essas imposições estruturais,

Prefiro algo com menos consistência,

Que me faça fugir dos rituais.

Essas cadeias significantes,

Feito uma pedra que rola,

Não sou Sísifo replicante,

Esmago o que vier sem demora.

Deixo revirar,

Algo sem ritmo,

Mudo de lugar,

Odeio o fixo.

Dialética é falso movimento,

Acaba-se preso novamente,

Vai e volta feito ioiô em lançamento,

Marionete em corda latente.

Regularidade fantasiosa,

Comprime oprimindo,

Normatiza imperiosa,

Ordena num delírio.

Quebro a engrenagem,

Que tem engenharia flexível,

Torço as articulações com vontade,

Desprendendo músculos invisíveis.

Renego o mérito,

Meu aplauso é vaia,

Provoco descrédito,

Minha realidade estilhaça.

Dissolvendo modelos,

Desarrumando o rumo do mando,

Nunca me terão por inteiro,

Pro sagrado sou profano.

Decaindo sem parar,

Ignoro essa hierarquia,

Sem pretender um dia chegar,

Transformado à revelia.

De cada situação,

Me desamarro de ser situado,

Desarticulando tal projeção,

Desmembrado em distintos estados.

Na correnteza do tempo,

Viro o rosto a galhos estendidos,

Águas que levam sem comedimento,

Empregam mas faço de demitido.

Falência de leis,

Inconsequente atos,

Essas pegadas repudiei,

Marquei meus próprios passos.